Revista Rua


A que Tradição Pertence a Tradição Gramatical Russa
(To what tradition does the Russian grammatical tradition belong?)

Patrick Seriot

língua viva, em que o aoristo não era mais empregado, e que tinha além do mais o inconveniente de confundir a 2ª e a 3ª pessoa do singular). O erro imperdoável que ele tinha cometido em relação a isso foi o de falar de Cristo como um ser temporal, transitório e não eterno.
                Esta recusa da abordagem convencionalista do signo quando se trata do texto sagrado está perfeitamente de acordo com a noção de Transcendência da mensagem transmitida.
 
Lutas ideológicas: a recusa da gramática
 
                As primeiras gramáticas impressas do eslavo russo são contemporâneas à luta ideológica em torno da União das Igrejas na Polônia-Lituânia (XVI) que precede a guerra russo-polonesa do “tempo das perturbações, no início do século XVIII”.
                É com efeito nessa época que a rivalidade entre mundo católico-protestante de uma parte e ortodoxo de outra se manifesta com mais vivacidade nos eslavos do Leste. Inicialmente, nos rutenos da Polônia-Lituânia, depois finalmente na própria Rússia moscovita. A “tradição do pensamento greco-oriental” (FLOROVSKI, 1937: 172) estava em via de esgotamento e estava sendo lentamente substituída por uma outra coisa, de inspiração “greco-latina”, que nós preferimos chamar “corrente de pensamento”, ou por meio de um termo infelizmente mais “desgastado”, “ideologia”, no sentido de conjunto de representações não explícitas que determina uma produção escrita, científica ou não, e tipos de comportamento.
                O conflito ideológico fundamental baseia-se na oposição entre duas concepções do conhecimento, que têm a ver com a questão da relação com a língua na teologia, e suscita uma reação do meio intelectual eslavo oriental, do qual certos círculos viam no ensino escolástico ocidental uma ameaça à pureza da concepção bizantina da relação do homem com sua Saúde.
                É neste quadro conflituoso que aparece uma reinterpretação surpreendente da herança cultural grega clássica, a qual se torna rapidamente o símbolo da “tradição latina”, pois o edifício do ensino escolástico ocidental repousa essencialmente sobre Aristóteles, enquanto que o ensino eslavo oriental repousava sobre a autoridade dos Padres da Igreja (Oriental) e sobre as vidas de santos.
                É nessa perspectiva que tomam sentido os ataques contra o ensino da gramática. Para muitos eruditos eslavos orientais, o que está em jogo nas discussões se coloca sob