Revista Rua


A que Tradição Pertence a Tradição Gramatical Russa
(To what tradition does the Russian grammatical tradition belong?)

Patrick Seriot

vai, segundo os autores, do simples ao duplo e as próprias formas apresentam incoerências curiosas no interior do paradigma do aoristo. Vamos ver a razão disso mais adiante.
 
Tradição grega ou tradição latina?
 
Pode-se dizer que, até o início do século XVI, em todos os tratados de gramática escritos e depois editados na Rússia (moscovita ou rutena) se manifesta a influência exclusiva das teorias gregas. Mas a partir de 1522, com a tradução da Ars Minor de Donato, os modelos latinos chegam à Rússia. Então, se partimos do princípio de que os modelos latinos imitavam os modelos gregos, devemos nos perguntar sobre o que resta de tangível no choque entre as “duas tradições”, grega e latina.
É necessário reconhecer que as duas correntes não apresentam diferenças irreconciliáveis. A ordem das oito partes do discurso é diferente, mas há sempre oito, número que simboliza a completude (há sete etapas da vida, mas a morte representa a oitava etapa, que vem fechar o ciclo). Como se pode esperar, as gramáticas eslavas que seguem o modelo grego apresentam um artigo (razlicie), aquelas que seguem o modelo latino apresentam em contrapartida a interjeição (mezdometie). Em todos os casos busca-se introduzir à força os fatos do eslavo em um quadro preestabelecido, o que tem como resultado formas “curiosas”, que às vezes não têm relação nem com o eslavo antigo inicial nem com a sua evolução no espaço e no tempo. Assim, quando se traduz uma gramática latina, há 4 conjugações regulares para o presente e 2 irregulares (são os próprios lexemas latinos que fornecem os exemplos dos paradigmas: 1a conjugação - lyubiti = amare, 2a - uciti = docere etc.; cf. ARCHAIMBAULT, 1999: 62; WORTH, 1983: 96), mas quando se traduz uma gramática grega encontram-se facilmente treze (WORTH, 1983: 19).
O problema que gostaríamos de levantar aqui é saber, a partir das duplas fontes comuns, grega e latina, como pôde haver na Rússia afirmações tão categóricas sobre o corte entre o mundo latino e o mundo grego.
  
A RELAÇÃO COM A LÍNGUA É DETERMINADA POR UMA IDEOLOGIA SUBJACENTE
 
Moscóvia e Rutênia: O que Vem Depois é o Que Vem de Fora