Revista Rua


Identidade e Pertença: Estilo de vida e disposição morais e estéticas em um grupo de jovens

Mauro Guilherme Pinheiro Koury

ordem e à procura de manutenção dos novos valores, aderindo a vinculações não legítimas de proteção e ocultação da face, pela intermediação de um outro membro considerado mais eficaz, e onde o medo se configura como uma prática ritual a ser vencida e sua presença como um teste de sua confirmação à revelação de que foi sujeito e significado.
Nos dois casos, tomam-se como possibilidade de ação social as configurações relacionais postas em andamento por projetos específicos de indivíduos ou grupos em jogo. Que se, por um lado, se estabelecem sob um patamar de semelhança, abrigam ambos um forte respaldo de desconhecimento para o outro da relação. O que torna a ação social um jogo sempre visualizado como perigoso de união sob determinados argumentos, e de suspeição por não ter segurança completa na ou da administração do outro. Assim, o outro é sempre uma fonte de medo a ser controlada ou a ser reconfigurada e transposta para uma nova situação de semelhança possível, sempre trabalhada, sempre buscada como um ideal de chegada, ou talvez partida, ou recomeço.
 
           Conclusão
 
Este ensaio, enfim, buscou compreender o sentido de pertença e sua relação com os códigos da confiança e lealdade, conceitos aqui entendidos sob a ótica do medo (Koury, 2008), da traição ou da insegurança individual de não alcançar os ideais do grupo estudado. O seu objetivo foi o de perceber o processo organizativo interno do grupo e as redes vinculares que dão sustentáculo e base de apoio à sociabilidade grupal.
A confiança e a confiabilidade foram os elementos categoriais trabalhados para a compreensão do significado de pertença ao grupo. O sentido e a vivência da noção de confiança foram vistos como um aspecto da constituição ambígua do medo do outro e a sua ultrapassagem. Um lugar onde os laços afetivos são intensos e comuns, assemelhando cada membro ao outro, ao mesmo tempo em que parece assegurar um espaço de diferenciação individual das pessoas envolvidas em relação à sociedade em geral.
O sentimento de pertencer foi uma categoria fundamental para a compreensão dos laços de confiança e os sentidos de confiabilidade que transformam um indivíduo em Delta, e o faz vivenciar o sentido de comunhão de interesse e vontade como grupo e de onde parece advogar um sentido de similitude que o iguala aos demais membros, como comunidade. Ser leal e obter lealdade em troca é o resultado esperado deste sentimento de pertença e o fundamento da proteção.
O que remete, por sua vez, aos espaços construídos de confiança e confiabilidade no, para e pelo grupo. A revelação de saber-se confiável e poder confiar dá a cada membro individualmente e ao grupo em geral a certeza de formarem uma comunidade de valores morais. Comunidade moral em que a segurança e a lealdade criam as condições de apropriação e manutenção de uma prática social e pessoal.

               A segurança foi uma categoria analítica estudada pelo seu aparecimento no grupo, como associada à de confiança. Estar em segurança é se encontrar convicto, seguro ou certo da resposta do