Revista Rua


Identidade e Pertença: Estilo de vida e disposição morais e estéticas em um grupo de jovens

Mauro Guilherme Pinheiro Koury

papel na sociedade em torno e, em termos psicológicos, mais ajustado e confiante em si mesmo pela assunção da palavra, ou do sentido Delta, em si. Deste modo, são jovens que normalmente retornam à escola, muitos hoje já estudantes de terceiro grau ou já formados e atuantes em diversas profissões, que voltam a ter um melhor relacionamento com a família, com os amigos, maridos e esposas, com os companheiros, com os filhos, e consigo mesmo, e que detêm uma acepção de mundo enquanto direção, sentimento de adesão, de missão ou conquista. São jovens que procuram sair de si enquanto problemática existencial e que abrem para si um processo de atuação que vai da busca de conquistar um espaço social até o esforço de ampliação da rede Delta entre os jovens de fora do movimento, tendo sempre o processo do que foi, antes da adesão, como o sentido e a força de sua construção social, enquanto membro singular e enquanto coletividade.
                É o esforço de constituição de um movimento afirmativo e de apoio que interessa analisar neste ensaio e suas conseqüências para a ação e a construção social. As tensões resultantes, os impasses entre as ações individuais e coletivas decorrentes, o significado e a vivência prática do pertencer ao movimento, em cada membro e no grupo em geral, o significado da adesão na vida de cada um e as conseqüências desta adesão nas relações com os demais membros e os de fora do grupo, o ideal de ser e o medo de não o conseguir, vivido internamente por cada membro e nas práticas relacionais grupais, o ver a si mesmo, os outros membros e os de fora, a lógica e o uso e os sentidos dos termos confiança e lealdade na vida de cada membro e nas relações grupais, enfim, organizam a problemática deste ensaio, em sua busca de compreensão do movimento aqui chamado de Delta.
 
                Medo e Pertença
                 A confiança e a confiabilidade são elementos categoriais importantes entre os membros envolvidos para a definição de pertença ao grupo. Podem se espelhar tanto internamente, no sentimento de solidariedade e irmandade, quanto externamente, como visibilidade de ações e comportamentos sociais marcadores de singularidades e especificidades que demarcam o grupo frente aos demais grupos de jovens e à sociedade em geral onde se encontram inseridos.
                 Levam, também e, sobretudo, a pensar a problemática do estranhamento, como uma categoria necessária à constituição de uma sociabilidade e de uma individualidade qualquer. Se o estranho intimida e provoca reações sociais que visam à indiferença e sua exclusão (Goffman, 1985; Heller, 1983 e Koury, 1998), também provoca reações de proximidade e busca de semelhança que levam a assimilação e a composição conjunta a uma esfera discursiva dada. O sentido e vivência das noções de confiança, deste modo, são vistos como um aspecto da constituição e da ação ambígua do medo do outro e a sua ultrapassagem, em um fundamento de códigos de semelhança onde a confiabilidade é sentida como uma prática entre iguais.
                Confiança, então, é uma ação que permite àqueles que a possuem, ou põem em prática, uma espécie de segurança íntima de procedimento: o outro passa a ser visto como uma extensão ou prolongamento do eu. Um lugar de familiaridade, onde os laços afetivos são intensos, onde existe uma crença no valor do grupo que parece sobressair ou sobrepor-se aos diversos membros que dele fazem