Revista Rua


Identidade e Pertença: Estilo de vida e disposição morais e estéticas em um grupo de jovens

Mauro Guilherme Pinheiro Koury

             Introdução
             Este ensaio busca refletir sobre os sentidos e as fronteiras do pertencer a partir da análise do estilo de vida, das disposições morais e estéticas e das estratégias de amizade e sociabilidade vivenciadas por um grupo de jovens habitantes de bairros populares da cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Grupo de jovens chamado, aqui, pelo nome fictício de Delta, autocaracterizado como uma comunidade de apoio e afirmação aos jovens de bairros populares da cidade de João Pessoa.
            Nele se procura perceber o processo organizativo interno do grupo e as redes vinculares estabelecidas que dão formato e oferece as bases de apoio à sociabilidade grupal. A confiança e a confiabilidade, bem como as noções de lealdade, fidelidade e gratidão, de uma parte, e as noções de segredo, dúvida, traição e deslealdade são categorias analíticas que ajudarão a perceber o jogo de inter-relações acionadas por eles para as trocas simbólicas efetuadas pelos parceiros em interação, e para a manutenção de um padrão organizativo interno e controle social dos seus membros. O esforço analítico aqui desenvolvido, por fim, conforma o valor e as bases compreensivas de uma abordagem antropológica que dê conta das dimensões sociais da emoção nas ações e processos de criação humana.
 
            Quem são os Deltas?
            O movimento Delta atua, principalmente, em bairros situados próximo ao centro da cidade de João Pessoa, embora afirmem possuir, em número menor, membros distribuídos por outros bairros populares da capital. É formado por jovens de ambos os sexos de uma faixa etária dos 15 aos 30 anos de idade -  é bem verdade que uns poucos membros chegam a ter uma idade mais elevada do que trinta e, embora não deixem a militância, passam a ter uma presença mais simbólica do que efetiva no grupo, servindo como consultores ou conselheiros para problemas internos ou externos do movimento, ou como memória social e em relação aos princípios e ideário Delta.
            São jovens com uma história de vida difícil e uma presença no mundo conturbada, seja por questões ligadas a problemas econômicos ou familiares, seja por problemáticas de fundo social, afetiva ou emocional, até a entrada no movimento. Esse corte na vida de cada membro entre o antes e o depois de pertencer ao Delta é fundamental para a caracterização do significado da presença do grupo na vida de cada um e do próprio sentido simbólico atribuído ao grupo em sua totalidade pelos que dele fazem parte.
           Pertencer ao grupo, as amizades com e entre os membros do grupo, a mudança na qualidade e estilo de vida após a adesão ao grupo Delta perfaz, deste modo, uma espécie de renascimento para o mundo social e psicológico de cada membro. Este fato, inclusive, é fundamental para compreensão da cultura política Delta enquanto construção simbólica de inclusão social dos seus membros e vinculação interna entre eles e entre cada membro em relação ao grupo.
            As novas amizades e vida comunitária e a sua intensidade na biografia do jovem revolucionam o cotidiano e as perspectivas do novo membro, a ponto de causar uma espécie de ruptura simbólica entre o antes e o depois de sua adesão ao grupo. O novo membro que nasce após a entrada no movimento ressurge para o social mais amplo como um ser mais integrado ou que busca um melhor