Revista Rua


Futebol no Brasil: sentidos e formas de torcer

Simone Hashigutti

 

Torcer é uma prática discursiva que pressupõe uma ordem, formas e posturas específicas, as “normas tácitas”, que são os saberes que não precisam ser ditos, mas que sempre estão produzindo efeitos. Prática comum entre os torcedores de diferentes times é a chamada “zoação”, provocações feitas com piadas sobre os rebaixamentos, perdas de jogos, desclassificações, jogadas e jogadores malsucedidos, e que, segundo os sujeitos entrevistados, também faz parte da prática de torcida. Mesmo nessas situações, nas campanhas malsucedidas, os torcedores não podem (discursivamente) mudar de time. Eles próprios fazem piadas sobre sua filiação ao grupo:
 
(11) (I4) Sou corintiano sofredor.
 
(12) (I5) Parmerense sofre, fazer o quê?
 
            As histórias de perdas, períodos ruins para os times são rememoradas pelos seus torcedores com humor, e com orgulho quando ocorre superação. Não importa quão bom ou ruim o time seja, em comparação com outros, a regra, segundo a análise dos dados, é “manter-se fiel”.
A fidelidade pode ser pensada como um dos elementos da relação que se constitui dentro de uma discursividade de amor, de sentido divino e religioso, que atravessa a discursividade do futebol. Nas tomadas de torcedores que as redes de televisão mostram nos intervalos dos jogos, não é raro vê-los beijando as camisas e os símbolos de seus times, numa expressão de afeto e amor. Também não é raro encontrar afirmações como as que seguem nos sites e comunidades virtuais:
 
(13) Eu amo o Santos ele é o meu time de coração eu tenho orgulho de se Santista nasce para isso para apoiar e honrar o meu time quero dar toda força do mundo