Revista Rua


Futebol no Brasil: sentidos e formas de torcer

Simone Hashigutti

 

(1) (I1)P: _Por que o Vasco?
       I1: _Eu cresci com a minha família torcendo por um time e escolhi ele para ser torcedor também.
 
(2) I2: _Não assisto, não acompanho, nunca vou ao estádio, não vejo na tv, mas torço pelo São Paulo.
       P.: _ E seu filho?
       I2: _São Paulo, por minha causa.
       P: _ Por que o São Paulo?
       I2 _Nem sei. Não sei te falar por quê.
 
(3) (I3) P: _ Por que palmeirense?
      I3: _Porque eu cheguei aqui em SP e tinha uns amigos palmeirenses e comecei a torcer.
      P: _Você torcia antes para alguém, lá em Fortaleza?
      I3: _Não, não, não torcia não.[5]
 
No depoimento (3), percebe-se que em outro lugar, em outras condições de produção, ocupar a posição-torcedor não fazia sentido para o informante, bem como em (1), não houve questionamento do sujeito sobre torcer para aquele time, mas identificação. O sujeito ocupa, em diferentes momentos, diferentes posições discursivas e seu dizer faz sentido a partir das relações entre essas posições na formação discursiva. Assim, fazer sentido depende da relação com a exterioridade e com as relações de poder estabelecidas entre as posições discursivas em jogo. No discurso do futebol, a tensão ocorre entre as posições-sujeito: técnico, jogador, torcedor, narrador, presidente do clube, torcedores de outros times, por exemplo. Dizer-se “torcedor” é, portanto, identificar-se dentro de um discurso, entrar num jogo imaginário de poder e de regras com as outras posições discursivas. As posições-sujeito, entretanto, são intercambiáveis no discurso:
 
(4) temos que contrata goleiros melhores falam os nomes de quem vcs queriam o meu eh o dida e o seus
 


[5] Os fragmentos de entrevistas serão sinalizados, durante o texto, pela utilização da inicial I (informante) e um número que identifica cada um dos informantes.