Revista Rua


Futebol no Brasil: sentidos e formas de torcer

Simone Hashigutti

 

entram no jogo de imagens entre as posições-sujeito e no processo de produção de sentidos. Dentre essas condições de produção, existe também a relação imaginária que vai se constituindo sobre o próprio objeto do discurso: de que se fala quando se fala sobre futebol? Na análise, o sentido, para os torcedores, de que “futebol é para homem” ficou evidente em vários fragmentos, como em (5), abaixo:
 
(8) (I1) Essa coisa de jogador processar jogador de outro time porque xingou não tem nada a ver. O jogo de futebol é assim, jogo de homem. Todo mundo grita, xinga, manda tomar no cu, se foder e é amigo, faz parte do jogo. Às vezes sai briga e o caralho, mas faz parte, não dá pra levar pro lado pessoal. Tem que ser homem e agüentar.
 
            Um dos efeitos desse imaginário, como foi possível perceber nas comunidades virtuais analisadas, é que a presença das mulheres de fato é menor que a dos homens, pelo menos no que diz respeito aos debates que nelas ocorrem, e que para expressarem suas opiniões, elas entram nessa discursividade considerada “masculina”, usando o mesmo léxico e expressões.
 
Futebol e cidade
 
Outro aspecto presente como marca na discursividade do futebol é sua fundação como uma prática ligada ao urbano. Toledo (ibid.: 15-16), em seu estudo sobre torcidas organizadas, retoma o surgimento do futebol nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro:
 
Acompanhando a literatura sobre o futebol, tanto a sociológica e historiográfica quanto a literária (romances e contos), percebe-se que sua organização, o aparecimento dos primeiros clubes, a formação das ligas, federações, bem como o aumento da demanda pela sua prática e fruição, acompanharam o crescente processo de urbanização por que passou a cidade de São Paulo desde o começo do século. As construções dos estádios e praças esportivas estiveram em consonância com o crescimento da popularização do futebol. (...) O esporte, por alguns elementos que contém e o caracterizam, ou seja, reflexo e agilidade, coletividade, dinâmica, o espírito competitivo, a participação – não somente daqueles que, de fato, praticam mas também assistem – traduziu, ainda que por um viés próprio, o movimento crescente de urbanização por que passou a cidade. Com isso expressou, simbólica e materialmente, o espírito do progresso dos centros urbanos, onde efetivamente se difundiu desde as primeiras décadas do século XX, sobretudo São Paulo e Rio de Janeiro.