Revista Rua


A coevolução do "roubo de identidade" e dos sistemas de pagamento
The coevolution of "identity theft" and payment systems

Benoit Dupont

contra o “roubo de identidade” e a cibercriminalidade (68,5 % de confiança), em relação à polícia (66,5%) e os organismos de proteção dos consumidores (66%).
Este paradoxo aparente representa uma das linhas de interpretação do “roubo de identidade”, não mais somente um fenômeno puramente criminológico que pode explicar mecanicamente pela convergência de alvos atrativos, do delinqüente motivado e ausência das guardas competentes, mas também como uma conseqüência das transformações econômicas e sociais muito mais profundas modificando durante muito tempo as oportunidades criminosas (Cohen e Felson, 1979: 593).
 
2. A coevolução do roubo de identidade e dos sistemas de pagamento
 
Na medida em que mais de dois terços dos casos de “roubo de identidade” implicam a utilização fraudulenta de cartões de crédito ou de débito (Dupont, 2008; Pontell, Brown e Tosouni, 2008), uma análise da história e das características deste meio de pagamento tornado onipresente na nossa vida cotidiana e indispensável a fim de identificar as oportunidades criminosas que tem acompanhado seu desenvolvimento, assim como aquelas das quais ele causou a extinção. Um sistema de pagamento é geralmente definido como “o conjunto de disposições jurídicas, de contratos e de soluções tecnológicas permitindo a transferência de valores entre várias partes com a finalidade de atender os objetivos específicos desses fins” (Morris e Korosec, 2005: 19). A história da desmaterialização dos sistemas de pagamento começa no século VII antes de nossa era, com a invenção pelos Lídios das peças de moedas metálicas que permitem a emergência de uma unidade de cálculo e a constituição de um sistema de troca de valores líquidos. O desenvolvimento dos bilhetes de troca no século XII no norte da Itália permite a instalação de uma rede bancária que facilita o acesso dos empreendedores do crédito. Mesmo que encontremos o traço dos primeiros bilhetes de banco na China no fim do século VII (Ferguson, 2008: 28), a Europa só se conduz decisivamente a essa terceira inovação no século XVII. Isso traduz uma promessa de redenção do emissor a seu portador retirando de circulação uma quantidade importante de moedas metálicas (Evans e Schmalensee, 2005). Na América do Norte, é em 1690 que vemos aparecer a moeda em papel em Massachusetts, a fim de pagar os esforços da guerra para capturar a fortaleza do Quebec. A informatização progressiva do sistema bancário no início da segunda metade do século XX resulta no processo de desmaterialização do dinheiro, porque o fluxo financeiro abandona o suporte do átomo e tomando a forma da transferência dos elétrons. Se essas quatro grandes evoluções