Revista Rua


A coevolução do "roubo de identidade" e dos sistemas de pagamento
The coevolution of "identity theft" and payment systems

Benoit Dupont

identificadores para obter as facilidades de crédito, acesso fraudulento às contas bancárias online, e obtenção fraudulenta de serviços não financiados) permitem antes pensar que a cifra real era de 5,7%, ou seja, um pouco mais do dobro da porcentagem inicialmente declarada[4]. Esta pequena experiência confirma que uma proporção significativa das vítimas está, assim, ausente das pesquisas que buscam as características do termo “roubo de identidade” recolhidas no uso corrente e na significação precisa e associada no seio da população.
 
c. O delinqüente desconhecido
 
Se as pesquisas produzem-se em intervalos regulares a fim de estabelecer o número e o perfil das vítimas, assim como os riscos e os prejuízos aos quais estes estão expostos, os delinqüentes são, ao contrário, quase totalmente abandonados pelos pesquisadores. Como diz Marron (2008: 34) este crime “sem causa” se vê dotado de uma existência autônoma que não impede observações que possam diminuir o valor alegórico. Os experts do setor privado não deixam de utilizar o mecanismo que constitui a falta de dados para impor sua própria representação dos ladrões de identidade: pertencendo a redes estruturadas – quando eles não estão ligados ao temível crime organizado, esses super-delinqüentes operando em escala mundial e mobilizando competências técnicas fora das normas para procurar milhões de identidades que seriam em seguida revendidas nos mercados clandestinos, onde os números de cartões de crédito e os códigos de acesso das contas bancárias mudam no curso determinado pelas leis de oferta e demanda (ver a título de exemplo Berinato, 2007; Symantec, 2008; Thibodeau, 2008).
Mesmo que algumas apreensões fortemente midiatizadas[5] venham periodicamente reforçar o mito do super-utilizador (Ohm, 2008), a maioria dos delinqüentes envolvidos nos “roubos de identidade” e interpelados pelas forças de ordem exibem um perfil muito comum (Allison et al., 2005; Copes e Vieraitis, 2007; Gordon et. Al., 2007). Uma análise das características de 867 acusados realizadas a partir de informações publicadas pela imprensa norte americana entre janeiro de 2008 a dezembro de 2009 demonstra que os modos de operação privilegiados são de natureza muito rudimentar. De fato, os delinqüentes só agem em 72,7% dos casos, e suas




[4] Este afastamento é também problemático para as campanhas de prevenção do “roubo de identidade”, porque ela faz ouvir que uma parcela importante da população não é considerada, mesmo ela estando exposta aos riscos associados a esta terminologia.
[5] Conforme Albert Gonzalez, responsável pelo roubo de várias dezenas de milhões de números de cartões de crédito (Stone, 2008).