Revista Rua


A coevolução do "roubo de identidade" e dos sistemas de pagamento
The coevolution of "identity theft" and payment systems

Benoit Dupont

mais de 350 milhões dólares, mas limitada às estatísticas globais de utilização desse meio de pagamento, ela só representava 0,13% dos 264 milhões de dólares das transações efetuadas[9]. Por comparação, as taxas de perda não atribuídas às contas suspensas (falta de pagamento das faturas para além de um período de 90 dias) se elevava, no mesmo período, a 5,38% das vendas em curso. De fato, o risco de fraude parece muito mais controlado que o risco inerente à distribuição do crédito para consumo. No que diz respeito aos cartões de débito, a taxa das perdas com a fraude é sensivelmente idêntica com um pico em 2009 de 0,08% do montante das transações realizadas[10]. Vê-se assim que o “roubo de identidade” está ainda longe de colocar em questão a viabilidade do setor bancário, mesmo que os ganhos produzidos pelos fraudadores estejam longe de ser negligenciados.
Por outro lado, esta migração criminosa natural em direção aos meios de pagamento dominantes tem por efeito externalidades[11] positivas que são raramente levadas em conta nas análises sobre o impacto do “roubo de identidade”. De fato, o declínio da moeda em espécie e do cheque se traduziu pelo recuo concomitante das formas de delinqüência associadas à circulação desses meios de pagamento. A utilização fraudulenta de cheques foi também dividida por seis, entre meados dos anos de 1980, onde se observava um pouco mais de 300 processos por 100.000 habitantes (Centro Canadense de Estatística Jurídica, 2005: 9). Quanto aos roubos qualificados nos estabelecimentos comerciais (incluindo os bancos e o comércio), que se caracterizam pelo recurso (ou a ameaça do recurso) à violência desmedida a fim de obter rapidamente uma quantidade importante de dinheiro, conheceram uma diminuição de 34% no curso dos últimos dez anos, enquanto que no comércio nos lugares públicos (+8,3%) e nas residências (+24,7%) aumentaram durante o mesmo período (Dauvergne, 2010: 19). Tal diferença reflete certamente uma menor disponibilidade de dinheiro líquido nos estabelecimentos comerciais, causada pelos recursos mais freqüentes dos meios de pagamento eletrônico.
Se o “roubo de identidade” parece, portanto, também favorecer as ocasiões criminosas gerais pela aparição e adoção generalizada dos cartões de crédito e de débito, a nova ecologia dos meios de pagamento provocou a extinção programada das




[9] Ver as estatísticas sobre a fraude por cartão de crédito (2009) e as estatísticas sobre os cartões de crédito (2009) disponíveis no site da Associação dos Bancos Canadenses no seguinte endereço: htpp://www.cba.ca/fr/component/publication/69-statistics (consultado em 22 de junho de 2010).
[10] Segundo os índices da associação Interac no seguinte endereço: htpp://www.interac.ca/media/stats.php (consultado em 22 de junho de 2010).
[11] N. do Trad. Conceito e vocabulário corrente em economia.