Revista Rua


A coevolução do "roubo de identidade" e dos sistemas de pagamento
The coevolution of "identity theft" and payment systems

Benoit Dupont

alguns estudos financiados pelo orçamento público (Baum, 2006; Dupont, 2008; Sproule e Archer, 2008) são raramente reconduzidos, o que impede de se analisar a evolução do fenômeno no tempo.
O que o espaço estatístico deixa vago é, portanto ocupado pelas empresas privadas que encomendam pesquisas da qual a consultora é pagante, que são utilizadas como argumento de comercialização de alguns produtos e serviços para a proteção da identidade. Assim, a versão completa dos resultados da pesquisa da empresa Javelin Strategy and Research é oferecida a venda por 3000 dólares[3], além de ser financiada pelos atores do setor bancário como Fiserv Wells Fargo. A primeira versão dessa pesquisa anual data de 2003, e se refere, por conseguinte, ao instrumento de medida do “roubo de identidade” muito freqüentemente citado nas mídias. Neste contexto, o declínio do número de vítimas observado por Javelin entre 2003 e 2007 tem um sentido particular que não deve aborrecer aos comanditários corporativos da pesquisa. No Quebec, a pesquisa tornou pública em março de 2008 pela Sigma Assistel, uma filial da companhia de seguros Des jardin Sécurité financière, a insistência nas conseqüências negativas do “roubo de identidade”, como a restrição do acesso ao crédito ou ainda o stress induzido pelas tentativas de restauração da identidade. O fato de a Sigma Assistel oferecer um serviço de “assistência ao roubo de identidade” não é evidentemente fruto do acaso. Na França, a primeira pesquisa de usurpação da identidade (o termo privilegiado no hexágono) fora publicada em 2009 financiada pela Fellowes, uma empresa americana fabricante e distribuidora de fragmentadoras(ou trituradoras) de documentos.
Os problemas associados às pesquisas sobre o “roubo de identidade” não têm relação unicamente com a direção inerente dos que financiam sua realização e difusão. Eles se confundem também com as ambigüidades terminológicas descritas mais acima. De fato, na falta de definição clara e conhecida de todos, as testemunhas não associam necessariamente algumas fraudes das quais elas foram vítimas a um “roubo de identidade”. A título de exemplo, na pesquisa realizada no Quebec (Dupont, 2008), somente 2,5% das pessoas interrogadas afirmaram ter sido vítimas de um “roubo de identidade” (que lhes tinha sido definida como uma “fraude que consiste na coleta e uso de informações pessoais com o desconhecimento e sem autorização da vítima, e este, para fins geralmente criminosos”) no curso dos doze meses anteriores, enquanto que quatro etiquetas correspondendo a principais técnicas empregadas pelos delinqüentes (utilização fraudulenta de um cartão de pagamento, utilização de elementos