Revista Rua


A coevolução do "roubo de identidade" e dos sistemas de pagamento
The coevolution of "identity theft" and payment systems

Benoit Dupont

tiveram perdas colossais. De fato, o modelo comercial sobre o qual repousa o cartão de crédito não responde às condições de funcionamento dos mercados clássicos. Os economistas utilizam o conceito de “mercado bilateral” para explicar seu funcionamento. A característica principal de um mercado bilateral é que o vendedor deve satisfazer dois grupos distintos de clientes, que tiram um proveito mútuo de sua relação pelo intermédio do vendedor (Evans e Schmalensee, 2005: 135). No caso dos cartões de crédito, os clientes dos bancos emissores são os detentores dos cartões e os comercializam. Os detentores do cartão se beneficiam de uma fatura que retarda as despesas o que lhe permite financiar um estilo de uma vida de instantânea gratificação, de uma proteção contra a perda e o roubo a um nível pré-definido, e podendo igualmente aceder aos sistemas de fidelidade que lhe dão a impressão de obter uma melhor qualidade de serviço. Por outro lado, os comerciantes são protegidos contra a falta de pagamento dos consumidores (cheques sem fundo ou contas suspensas), transferindo a uma terceira parte o financiamento das vendas não podendo ser pagas imediatamente, alegando incompatibilidades, reduzindo sua exposição aos riscos de roubo e de malversação inerentes da manipulação de dinheiro e cheques, e podendo aceder a informações detalhadas sobre os detentores dos cartões que são os clientes desejáveis, porque já aprovados pelas instituições bancárias emissoras (Morris e Korosec, 2005; Arango e Taylor, 2008).
Entretanto, para colocar tal mercado em funcionamento, uma massa crítica de detentores de cartões e de comerciantes aceita estes cartões como de acordo. De fato, é difícil convencer os comerciantes de aceitar os cartões (e os custos aferidos) se estes só são utilizados por um número limitado de clientes potenciais, os quais não terão nenhum interesse de manter um novo meio de pagamento que não o universalmente aceito, como é o dinheiro. A fim de resolver este dilema, os bancos emissores inundaram o mercado de cartões pré-aprovados que foram distribuídos sem verificação de condições de crédito a um conjunto de clientes existentes. Esta aproximação comercial agressiva se traduziu em perdas financeiras de mais de dezenas de milhões de dólares causadas por uma acumulação de contas de débitos suspensas, ameaçando a sobrevida deste novo meio de pagamento (Grossman, 1987: 286; Chutkow, 2001).
 
b. A emergência das novas oportunidades criminosas
 
Os fraudadores também compreenderam muito rapidamente o maná que podia representar o lançamento dos cartões de crédito. A distribuição por via postal dos novos