Revista Rua


A coevolução do "roubo de identidade" e dos sistemas de pagamento
The coevolution of "identity theft" and payment systems

Benoit Dupont

técnicas de aquisição de elementos identificadores se apóiam na operação de um exame técnico muito desenvolvido, porque quase metade dos casos (46,3%) implica o roubo físico de carteiras e bolsas, enquanto que a utilização fraudulenta de dados informatizados aos quais os fraudadores têm acesso no quadro de seu emprego legítimo representa 29, 9% das atividades. As técnicas de pirataria abundantemente depreciadas na imprensa, como a hameçonnage[6] (o ‘phishing’) ou o desenvolvimento de botnets[7], só foram utilizados por 6,9 dos indivíduos detidos. A Internet não está tão presente na etapa da exploração fraudulenta, porque as duas técnicas privilegiadas pelos delinqüentes para extrair um ganho de elementos identificadores são obtidas na compra com auxílio de cartão de pagamento roubado ou fraudado (41,7%) e a retirada de espécies das agências bancárias (20,2%). Esta simplicidade dos meios utilizados não impede a possibilidade de lucro substancial, a média dos montantes obtidos pelos indivíduos detidos elevou-se a 26.793 dólares, o que dá a esta atividade um rendimento muito favorável.
Assim, longe de ser o atributo de uma nova categoria de criminosos internacionais dotados de competência singular, o “roubo de identidade” permite a pequenos delinqüentes muitas oportunidades de se diversificar em direção a atividades com pouco risco e muito favoráveis.
 
d. A confiança do consumidor
 
A grande parcela da população vítima a cada ano de um “roubo de identidade” se explica, portanto, em parte, se julgarmos pelos resultados da seção anterior, pela relativa facilidade com a qual os elementos identificadores podem ser obtidos e fraudulosamente convertidos em vantagens pelos delinqüentes sem competências particulares. Nesse contexto, seria lógico pensar que a confiança da população nas instituições bancárias, particularmente expostas a este tipo de fraude, tivesse um declínio acentuado. Portanto, os resultados da pesquisa realizada no Quebec (Dupont, 2008: 23) contradizem essa intuição: os bancos, ao contrário, figuram no topo da lista das instituições nas quais os cidadãos depositam sua confiança a fim de os proteger




[6] N. do Tradutor: Optamos pela grafia da palavra em francês e seu uso no inglês. A hameçonnage (palavra de uso corrente no Quebec – na França é piloutage) ou phishing é a configuração falsa de uma página web ou o envio de mensagem eletrônica (spam) em que se solicitam aos usuários da Internet informações pessoais, endereço de email ou senha para uso fraudulento.
[7] N. do Tradutor: Botnet é um termo associado ao uso de software malicioso.