Revista Rua


Separação e mistura: alusões utópicas e imaginação espacial no filme A Vila
Separation and mixing: utopians allusions and spatial imagination the movie The Village

Antônio Carlos Queiroz Filho

Ele qualifica essa separação como algo “horrível” porque a “intimidade” existente em cada “lado” não é algo fácil de ser observado e, muitas vezes, ao menos é considerada. O que acontece, na maioria das vezes, é que o sentido dado àquilo que separa morre na própria separação: dentro/fora, vasto/ínfimo, exterior/interior. Para Bachelard, essas dualidades não podem ser tomadas como dicotômicas. Elas não se opõem, como se partilhassem de uma simples figuração geométrica que “vê exatamente a mesma coisa em duas figuras semelhantes desenhadas em escalas diferentes”, afirma ele, chamando atenção para a dimensão espacial que esses termos nos apontam.
O filme nos permite pensar sobre essas questões. Suas imagens reforçam a separação como oposição e, ao mesmo tempo, como mistura. A cidade, lugar do mal; e o vilarejo, lugar do bem, são “pretextos” narrativos para dizer que um não existiria sem o outro. Aproximando novamente a figura da Ilha de Utopia, podemos ver como se dá a criação de um exterior/interior e de como, a partir disso, se configura a relação dos seus habitantes com o lugar e se criam significados para esse mesmo lugar. Num trecho do livro, Morus a descreve:
O exterior das duas extremidades é perigoso e traiçoeiro, por causa dos bancos de areia e dos rochedos. [...] Outros rochedos ficam ocultos sob a água e são por tal razão muito perigosos. Só os naturais da ilha conhecem os passos navegáveis. Por isso, quase nenhum navio estrangeiro se atreve a penetrar no porto sem um piloto utopiano. (MORUS, 2004, p. 53)
 
Como já dito, ilha e filme participam da imaginação espacial que se estabelece a partir de uma geografia que configura um dentro, um entre e um fora, como podemos observar nas figuras 04 e 05, a seguir:



Descrição: PDVD_009