Revista Rua


Sujeitos ambulantes: pistas para uma nomadologia urbana
Wandering subjects: clues to an urban nomadology

Gabriel Schvarsberg

Lentidão como cultura menor
 
Sujeitos ambulantes parecem estabelecer uma relação muito particular entre tempo, movimento e espaço que seria interessante explorar. Eles são antes de tudo lentos, mas não há nenhuma proximidade com um sedentarismo aqui. Trata-se de uma lentidão relativa: a fala rápida do camelô e a agilidade das manobras de vendedores ambulantes não estão com a velocidade, mas com a lentidão. O “homem lento” (SANTOS, 2008) nas ruas cada vez mais congestionadas, pode ser mais rápido do que um automóvel. Bicicleteiros e motociclistas, por sua esbelteza e velocidade potencial, maior que a dos pedestres, acabam saindo-se melhor na disputa com automóveis, mas difere entre os dois o tipo de engajamento corporal na ação – tração humana dos primeiros, tração mecânica do segundo. Mesmo cada vez mais vagaroso, é o automóvel, assim como a motocicleta (esta ainda rápida), e todo o conteúdo simbólico que os envolvem que estão associados ao imaginário da velocidade e da aceleração.
Assim, é preciso estabelecer algumas distinções. A lentidão para Milton Santos não se opõe à rapidez, mas à “vertigem” da aceleração contemporânea (SANTOS, 2008). Disto resulta que ela não seria uma qualidade da ação nos tempos racionalizados dos fluxos econômico-simbólicos globalizados, apesar de relacionar-se com eles. Ao contrário, remeteria a temporalidades outras, mais ligadas à riqueza da experiência eminentemente corporal de um movimento que tece relações menos mediatizadas com o espaço. A vertigem, por sua vez, seria a experiência nos tempos da aceleração, tempo métrico do imaginário técnico-científico do progresso e da velocidade. Uma experiência extensiva, mais do que intensiva, e com níveis de mediação (mais capsulares) onde os corpos (mais adormecidos) deslocam-se na velocidade mecanizada e da tecnologia da informação.
Milton Santos defende que na lentidão dos pobres, habitando os espaços opacos das cidades, existe uma riqueza que levaria a uma inversão da ideia de que os ricos, detentores da velocidade, seriam os fortes. Para o geógrafo, os “homens lentos”, por experimentarem a cidade, aparentemente de forma menos encapsulada, com menor mediação, “acabam sendo mais velozes na descoberta do mundo” (SANTOS, 2008, p.80).
Creio que na cidade, na grande cidade atual, tudo se dê ao contrário. A força é dos “lentos” e não dos que detêm a velocidade [...]. Os que, na cidade, têm mobilidade – e podem percorrê-la e esquadrinhá-la – acabam por ver pouco da Cidade e do Mundo. Sua comunhão com as