Revista Rua


Sujeitos ambulantes: pistas para uma nomadologia urbana
Wandering subjects: clues to an urban nomadology

Gabriel Schvarsberg

Me llaman el desaparecido
 Que cuando llega ya se ha ido
Volando vengo, volando voy
 Deprisa deprisa a rumbo perdido
Cuando me buscan nunca estoy
Cuando me encuentran yo no soy
El que está enfrente porque ya
Me fui corriendo más allá
Me dicen el desaparecido
Fantasma que nunca está
Me dicen el desagradecido
Pero esa no es la verdad
Yo llevo en el cuerpo un motor
Que nunca deja de rolar
Yo llevo en el alma un camino
Destinado a nunca llegar
(Manu Chao)
 
Tempo, espaço e movimento
 
As cidades parecem ser tradicionalmente investigadas e compreendidas no campo urbanístico segundo uma grande lente que poderia, simplificadamente, ser chamada de cidade sedentária. Planejadores e urbanistas têm historicamente subjugado a dimensão processual das dinâmicas urbanas, ou a própria dimensão do tempo, a abordagens exclusivamente espaciais. Tal escolha rebate-se invariavelmente em práticas urbanísticas que desenham e ordenam uma espécie de espaço estanque, como se capturado num instante eterno, de onde resultam projetos e mapas que definem e classificam, com precisão, onde e como os usos urbanos se distribuem no espaço. A cidade e seus habitantes são assim tabulados espacialmente por categorizações analíticas segundo a lei (formal e informal), segundo a distribuição de renda (pobres, classe média, ricos), segundo acesso a bens e serviços (incluídos e excluídos), para citar apenas as mais populares.
Promove-se a partir dessas práticas a replicação de um modelo de representação da cidade onde o espaço não contém o tempo, e o movimento se perde, ou parece não ter importância. Talvez esta escolha decorra da grande dificuldade que se tem em incorporar a temporalidade dos processos urbanos nas estratégias de sua compreensão, o que demandaria uma maior complexificação daquelas habituais categorias e métodos de análise. Ou talvez por que o enfrentamento do tempo exija que nos deparemos com as indeterminações e, consequentemente, com os limites do controle, o que coloca em evidência o caráter circunstancial e efêmero (ainda que longo em determinados