Revista Rua


Sujeitos e sentidos no espaço urbano: o escrito "dá o ar da sua graça"
(Subject and meanings in urban space: writing shows up)

Aline Torrizella Périgo, Juliano Ricci Jacopini, Noemi Lemes, Soraya Maria Romano Pacífico, Lucília Maria Sousa Romão

não de si mesmo, o que promove a emergência de uma diferenciação e assimetria entre o sujeito e o “povo”. O mesmo encontramos no primeiro recorte, em que o sujeito usa “Isso aí é pro pessoal não entender mesmo, não é pra entender”, posto que ao usar pessoal cria o efeito de sentido de que são eles, os outros, e não o sujeito que fala. Interessante observar a coesão por retomada, ou seja, a repetição de “não entender mesmo, não é pra entender”, formulação que coloca em funcionamento sentidos de proibição, de interdição, de impedimento imposto a uma determinada parcela da população quanto à possibilidade de leitura e de escrita. Temos, também, o uso do advérbio “aí” que parece criar um efeito de rebaixamento, tanto em relação à propaganda, quanto em relação à rodoviária, como se fossem objetos que o sujeito despreza, interpretação que se sustenta nos usos cotidianos do discurso do senso comum, tais como: “isso aí”; “aquele ali”; “essa aí”; “aquela lá”, em que os sentidos de aviltamento são tecidos pela própria ausência do nome ao qual o pronome se refere, inclusive o nome da rodoviária é silenciado e, no lugar, o sujeito usa “nessa rodoviária aí.”
Por outro lado, um sujeito rompe com a naturalização dos sentidos de que “não é para entender” e sugere que as propagandas sejam mais diretas (“Eu acho meio complexo, propaganda tem que ser uma coisa mais direta”), pois, se fossem, seria possível compreendê-las. No entanto, esse dizer reverbera sentidos do discurso pedagógico, o qual trabalha com a ilusão de transparência da linguagem, de clareza, de exatidão, em outras palavras, de uma linguagem “direta”. Entendemos que os sujeitos que estavam na rodoviária sentiram-se constrangidos diante dos pesquisadores e da solicitação de exporem-se à opacidade do texto publicitário, posto que os sujeitos trazem no imaginário a representação do que significa escola, lembrando que os pesquisadores lhes disseram que se tratava de um trabalho acadêmico; donde surge, pelo efeito da memória discursiva, a necessidade de descobrir qual é o sentido tido como certo e adequado dos textos, a relação assimétrica dos interlocutores (professores/alunos; quem está dentro e quem está fora da escola; quem sabe e ensina e quem deve ficar quieto para aprender), que se estabelece no discurso do tipo autoritário (ORLANDI, 1996a); assim, afetado pelo efeito ideológico de evidência, sustenta-se a verdade de que é melhor não interpretar do que interpretar “errado”.  Em Orlandi (1996b: 64), temos que “interpretar é compreender, ou seja, explicitar o modo como o um objeto simbólico produz sentidos, o que resulta em saber que o sentido sempre pode