Revista Rua


Sujeitos e sentidos no espaço urbano: o escrito "dá o ar da sua graça"
(Subject and meanings in urban space: writing shows up)

Aline Torrizella Périgo, Juliano Ricci Jacopini, Noemi Lemes, Soraya Maria Romano Pacífico, Lucília Maria Sousa Romão

possibilidade de consumir um produto comestível, no nosso caso, um sorvete industrializado. Tomamos o enunciado da propaganda como recorte de análise:
 
“O novo McFlurry dá o ar da sua graça”[1]
 
Considerando que essa propaganda apresenta formulações que mesclam duas línguas, somos levados a pensar que isso pode causar nos sujeitos-leitores um estranhamento, uma vez que a língua inglesa pode gerar um efeito de afastamento de alguns indivíduos em relação à propaganda, ao gesto de leitura e à atribuição de sentidos de/para o produto. Sabemos que o texto visual articula-se com o verbal no processo de construção dos sentidos e, às vezes, os sentidos tecidos pelo visual sobrepõem-se ao verbal; logo, não podem ser colocados à margem das análises. Entretanto, para este trabalho, não pedimos aos sujeitos para interpretarem o texto visual, dedicamos nossa atenção à materialidade escrita, isto é, à língua em funcionamento. Para realizar nossa pesquisa, como já apontamos, escolhemos dois pontos distintos da cidade onde se encontrava a referida propaganda: a rodoviária, com seus transeuntes, viajantes, migrantes, alguns sujeitos que a utilizam como ponto de trabalho (mototaxistas, a própria atendente do McDonald’s) e um shopping localizado na região central da cidade em que se deu o estudo, Ribeirão Preto, por onde circulam pessoas que passeiam, fazem compras, lêem, alimentam-se, divertem-se.
Dessa maneira, procurávamos analisar os gestos de interpretação de sujeitos que circulam em um ambiente considerado popular e, em outro, freqüentado pela classe considerada mais privilegiada, desta cidade. Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos aleatoriamente, nós nos aproximávamos deles, explicávamos sobre nosso trabalho e solicitávamos sua colaboração. Eles decidiam se queriam, ou não, participar da pesquisa que objetivava investigar como sujeitos e sentidos constituem-se no espaço urbano. Para atingir tal objetivo, optamos por analisar como os sujeitos interpretam os escritos que se inscrevem na cidade. Segundo Orlandi (2001: 188):
 
A posição privilegiada de um centro em relação ao seu entorno se dissolve por uma verticalização social extrema das relações urbanas: o centro é habitado pelos pobres, pelos meninos de rua, comércio informal,


[1] Propaganda da rede McDonald’s de um sorvete, muito divulgada no verão 2008/2009.