Revista Rua


Sujeitos e sentidos no espaço urbano: o escrito "dá o ar da sua graça"
(Subject and meanings in urban space: writing shows up)

Aline Torrizella Périgo, Juliano Ricci Jacopini, Noemi Lemes, Soraya Maria Romano Pacífico, Lucília Maria Sousa Romão

convencer os consumidores de que aquele é um produto capaz de causar agradáveis sensações ao ser consumido, como, por exemplo, “ser um produto gostoso, leve, causando leveza ao consumidor.”
Compreende-se, então, que as interpretações dadas pelos sujeitos são contextualizadas sócio-historicamente, e, por isso, poderão ser diferentes entre os diversos grupos sociais, pois a construção do sentido de determinado enunciado se dá numa complexa relação do sujeito-leitor com o texto, de acordo com seu acesso ou sua interdição ao interdiscurso. Concordamos com Orlandi (2001), quando diz que a narrativa urbana passa-se e constitui-se em um espaço de divergência, de diferença, do dissenso, o que espelha as relações de contradição sociais que (de)marcam as cidades; espaço de sujeitos e de seus modos de significar, que não são os mesmos, sem dúvida, posto que o sujeito é cindido, dividido, heterogêneo, assim como os cantos da cidade o são. Logo, a relação de sentidos que se estabelece entre sujeitos e o espaço urbano também se dá no âmbito da diferença e do múltiplo.
Assim, num movimento, ora de estranhamento, ora de pertença em relação aos espaços e discursos que constituem o urbano, os sujeitos julgam-se autorizados, ou não, a falar sobre os tantos sentidos possíveis à propaganda citada. Diante das análises, entendemos que as bordas das palavras podem migrar em (in)certezas, que os sujeitos podem se instigar a ousadias e a deslocamentos quando o tema é o funcionamento da linguagem. Estabelecendo um contraponto com o discurso pedagógico, queremos enfatizar que sabemos que todo texto publicitário tem um público alvo; todavia, o que nos interessa é que a escola ensine e autorize os alunos a lerem, interpretarem e produzirem qualquer tipo de texto, mesmo sem pertencer ao público a que o texto se destina. Tendo, neste caso, o texto publicitário como objeto de análise, constatamos que a escola não preparou os sujeitos que se encontravam na rodoviária para ler e interpretar os escritos que circulam na cidade, pois estes estão muito distantes do ba-be-bi-bo-bu.
Conforme Pacífico e Romão (2007), o esforço de professores para alfabetizar, em sentido restrito, não garante aos alunos um alto grau de letramento, pois há uma separação entre os usos da escrita legitimados ou excluídos da escola, que não colocam os alunos em contato e em confronto com a transformação da escrita e com sua relação de poder. Nessa relação desigual de poder, muitos sujeitos ficam à margem, pois aqueles que sabem apenas decodificar não participam do processo sócio-histórico de construção dos sentidos, embora tenham a ilusão de que têm acesso ao poder dizer,