Revista Rua


Sujeitos e sentidos no espaço urbano: o escrito "dá o ar da sua graça"
(Subject and meanings in urban space: writing shows up)

Aline Torrizella Périgo, Juliano Ricci Jacopini, Noemi Lemes, Soraya Maria Romano Pacífico, Lucília Maria Sousa Romão

são tão valorizados. Ou seja, o “ar da sua graça” como “resolveu aparecer”, “não é algo comum, mas surgiu”; “chegou”; “veio nos presentear com sua presença”, dentre outras interpretações possíveis, visto que esse enunciado já circula socialmente, não foi construído para a propaganda. O que temos é que a propaganda inseriu no intradiscurso sentidos já tecidos no interdiscurso.
Do que observamos, podemos dizer que a relação do sujeito com o sentido, especialmente considerando a posição de leitor, é afetada pela circulação do sujeito no espaço urbano, pelo modo como os textos e os enunciados circulam nas várias regiões da cidade, o que pode levar o sujeito a (des)identificar-se com os sentidos que estão ao seu redor. Nesse sentido, Pacífico e Romão (2007) defendem que os portadores de texto podem marcar a inclusão ou a exclusão do sujeito na escrita. Avançamos e ousamos dizer que os escritos podem marcar a inclusão ou a exclusão dos sujeitos no espaço urbano. Essa questão está relacionada ao fato de Gnerre (1998) considerar a linguagem uma possível ferramenta de dominação, de impedir o acesso de algumas classes sociais ao poder. Segundo o autor (1998: 23):
 
A função central de todas as linguagens especiais é social: elas têm um real valor comunicativo mas excluem da comunicação as pessoas da comunidade lingüística externa ao grupo que usa a linguagem especial e, por outro lado, têm a função de reafirmar a identidade dos integrantes do grupo reduzido que tem acesso à linguagem especial.
 
Isso pode ficar obscuro quando estamos tratando, como aqui, de uma propaganda de sorvete, mas, quando tratamos, por exemplo, das notícias em um jornal, das formas de divulgação do conhecimento científico ou até mesmo de uma propaganda política, podemos concordar com o que diz Gnerre (1988: 22), em que “a começar do nível mais elementar de relações com o poder, a linguagem constitui o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder”, pois os sujeitos, embora estejam em contato direto com os textos e com as palavras, são excluídos e não se identificam com a linguagem usada, com determinado tipo de funcionamento discursivo, principalmente, quando entram em jogo os implícitos, a metáfora, o silêncio (ORLANDI, 1997), situações em que a construção dos sentidos está muito longe de parecer óbvia ou transparente.
Os grupos privilegiados que, em geral, possuem conhecimento da variedade padrão da língua, que já aprenderam como ler e interpretar os sentidos que podem (ou