Revista Rua


Sujeitos e sentidos no espaço urbano: o escrito "dá o ar da sua graça"
(Subject and meanings in urban space: writing shows up)

Aline Torrizella Périgo, Juliano Ricci Jacopini, Noemi Lemes, Soraya Maria Romano Pacífico, Lucília Maria Sousa Romão

vidas, no trabalho, em suas lutas por sobrevivência, nenhum valorteriam,nenhum crédito mereceriam, nenhum direito poderiam ter garantido, pois nenhum mérito teria sido conquistado.
 
Disso decorre que esse sentido é legitimado não apenas por meio das falas dos sujeitos, mas também pela sociedade em geral que vê na escola a única possibilidade de ascensão e participação social, discurso que acaba sendo reproduzido pelos próprios sujeitos que são excluídos, pela interdição ao saber do/sobre os dizeres que circulam no espaço urbano, como se houvesse uma linha divisória legitimando o que é direito de uns e não de outros. Isso cria a ilusão de que uma propaganda, melhor dizendo, um dizer publicizado no espaço público não é tão público assim, colocando numa terceira margem aqueles que não podem e não devem interpretar os dizeres que circulam na própria cidade em que vivem, trabalham, transitam e inscrevem-se como sujeitos de linguagem. Consideramos importante ressaltar que não estamos tratando de textos científicos, literários, didáticos, mas, sim, de texto publicitário, o qual pode estar ao alcance dos olhos daqueles que andam pela rodoviária, pelas ruas das cidades; porém, conforme estamos constatando, o texto presentificado no cotidiano pode ser visto e até lido, mas não interpretado.
A interpretação, conforme a entendemos, em concordância com Orlandi (1996b), leva o leitor a perceber que o sentido pode ser outro, uma vez que aquele que compreende um texto entende seu funcionamento ideológico, percebe os pontos de fuga do sentido, pois realiza uma leitura sócio-histórica, ou seja, o leitor percebe a função social da leitura na medida em que ele leva em consideração a relação com a cultura, com a história, com o social, com a linguagem, e neste caso, para nós, ocorre a interpretação. Também nesse processo de interpretação o sujeito pode retomar a teia de dizeres já-ditos e sustentados pelo interdiscurso, os contextos sócio-históricos em que as palavras já circularam e os modos de inscrição histórica dos sentidos. A nosso ver, os sujeitos desta pesquisa não ocuparam a posição discursiva de função-leitor (PACÍFICO, 2002); alguns sequer ousaram fazer uma leitura parafrástica inscrevendo-se na posição discursiva que Pacífico (2002) denomina de fôrma-leitor (a repetição do sentido do texto). Ali, na rodoviária, para aqueles sujeitos que não têm acesso ao interdiscurso, a formulação “dar o ar da graça” não poderia dialogar com outros tantos sentidos tecidos sobre sorvetes, chocolates aerados, sobremesas leves, discursos muito valorizados, especialmente em épocas cujos sentidos de magreza, corpo fino, leve, baixas calorias,