Revista Rua


Sujeitos e sentidos no espaço urbano: o escrito "dá o ar da sua graça"
(Subject and meanings in urban space: writing shows up)

Aline Torrizella Périgo, Juliano Ricci Jacopini, Noemi Lemes, Soraya Maria Romano Pacífico, Lucília Maria Sousa Romão

misturados a resíduos do antigo centro valorizado. Os ricos vivem em outros lugares – em seus nichos (condomínios fechados) – freqüentando centros comerciais especializados, não acessíveis aos pobres.
 
Essa verticalização de que fala a autora (op.cit.) pode ser verificada também na disposição geográfica dos espaços nos quais realizamos a pesquisa, pois o shopping-center localiza-se em uma região do centro da cidade, tida como mais valorizada do ponto de vista imobiliário (prédios sofisticados) e com uma rede de serviços amplamente estruturada; já a rodoviária encontra-se no bairro central do comércio mais antigo da cidade, região tida como mais deteriorada e considerada de pouco prestígio, em que há entroncamento da rede de transporte (local e intermunicipal) de modo a possibilitar o tráfego para bairros que se caracterizam pelo baixo poder aquisitivo de seus moradores. É justamente essa verticalização que afeta e sustenta a produção e a formulação dos sentidos na cidade, como já dissemos e, também, afetará os gestos de interpretação dos sujeitos que circulam no espaço urbano. Com isso, estamos sustentando que os sujeitos no espaço urbano não ocupam nem se situam apenas em lugares físicos muito diferentes, mas em posições discursivas sócio-históricas muito diversas, o que interdita ou autoriza os seus gestos de interpretação e os modos como esses sujeitos (se) significam no espaço urbano. Ainda, segundo Orlandi (op.cit.: 193):
 
A questão da formulação, da corporalidade da linguagem inclui o que definimos como gesto de interpretação: o gesto é prática significante trazendo para si tanto a corporalidade dos sentidos quanto a dos sujeitos enquanto posições simbólicas historicamente constituídas: posições discursivas (lingüístico-históricas, materiais). Nós nos significamos no que dizemos. O dizer deixa os vestígios do vivido, do experimentado e o gesto de interpretação mostra os modos pelos quais o sujeito (se) significa.
 
Assim, ao circularmos pela cidade de Ribeirão Preto, pudemos observar marcantes diferenças entre os anúncios comerciais dos bairros onde vive uma população de baixa renda e as requintadas propagandas presentes em bairros elitizados, criando uma geometria de dizeres sobre o consumo, a publicidade, a distribuição do que seria passível de ser adquirido ou sonhado em ser consumido. Também a estrutura física dos espaços comerciais presentes nesses bairros nos possibilitou perceber a quais classes sociais eles se direcionavam. Prédios estilizados, muros altos, ambientes visivelmente fechados e filmados, com entradas únicas e palavras estrangeiras que marcavam