Revista Rua


Sujeitos e sentidos no espaço urbano: o escrito "dá o ar da sua graça"
(Subject and meanings in urban space: writing shows up)

Aline Torrizella Périgo, Juliano Ricci Jacopini, Noemi Lemes, Soraya Maria Romano Pacífico, Lucília Maria Sousa Romão

presença nos bairros “nobres”; por outro lado, construções mais simples, carregadas de coloridos e com formulações que quase sempre fazem referência aos preços baixos de seus produtos, estavam presentes no centro comercial da cidade. A partir dessas observações, podemos dizer que o discurso urbano tece uma narrativa que indica quais sujeitos são bem-vindos a determinados lugares e podem sentir-se à vontade para adentrá-los e quais devem sentir-se estrangeiros em alguns lugares, cuja separação é construída pelas formulações que circulam nos portadores de texto, na “dura poesia concreta de tuas esquinas”, lojas, prédios, shoppings, restaurantes.
Questionamos se os sujeitos menos privilegiados, que não tiveram acesso ao saber e ao poder, não são alvos das propagandas cujos sentidos são, geralmente, construídos por variedades lingüísticas tidas como mais elaboradas e, também, por palavras escritas em outras línguas como na propaganda que analisamos, às quais os mais pobres não têm acesso, justamente por não terem esse tipo de linguagem em suas práticas sociais ou mesmo em seu arquivo, entendido aqui, conforme Pêcheux (1997) como um campo de documentos pertinentes sobre uma dada questão. Partindo dessa mesma percepção, mas não concordando com ela, escolhemos a propaganda do McDonald’s por entendermos que os dizeres nela inscritos reclamavam o acesso à memória discursiva e ao arquivo, não apenas sobre a marca americana da rede de lanchonetes (McDonald’s), mas, sobretudo, aos efeitos de leveza já postos em funcionamento em outras propagandas, já falados em outros lugares sociais, tais como aquelas peças publicitárias já dadas pela marca Nestlé para os sentidos do chocolate Suflair. Os indícios a serem lidos na propaganda do sorvete exigiam o acesso a marcas lingüísticas instaladas por marcas publicitárias, por dizeres anteriores e exteriores ao outdoor ou ao cartaz, pedindo que o sujeito-leitor emprestasse a imaginária leveza do chocolate em barra, a delícia e a confiabilidade do fabricante Nestlé para, sob o signo da memória discursiva, atribuir sentidos ao sorvete marcado pelo “ar da graça” de tantos outros ares já ditos anteriormente.
Por isso, julgamos importante tomar a definição de Pêcheux (1999: 56) sobre a memória discursiva que “não poderia ser concebida como uma esfera plena, cujas bordas seriam transcendentais históricas e cujo conteúdo seria um sentido homogêneo, acumulado ao modo de um reservatório: é necessariamente um espaço móvel de divisões, de disjunções, de deslocamentos e de retomadas, de conflitos, de regularizações... Um espaço de desdobramentos, réplicas, polêmicas e contra-