Revista Rua


Sujeitos e sentidos no espaço urbano: o escrito "dá o ar da sua graça"
(Subject and meanings in urban space: writing shows up)

Aline Torrizella Périgo, Juliano Ricci Jacopini, Noemi Lemes, Soraya Maria Romano Pacífico, Lucília Maria Sousa Romão

não) ser ditos em dado contexto e que têm acesso ao interdiscurso sobre marcas, são os grupos a quem se destinam as propagandas como essa que foi nosso objeto de estudo, os quais se encontram, de modo geral, nos locais também privilegiados da cidade, como, por exemplo, no shopping em que realizamos parte deste estudo. Nesse shopping, deparamo-nos com sujeitos que, ao contrário daqueles presentes na rodoviária, não se sentiam amedrontados quando questionados sobre os sentidos da propaganda. Aliás, muitos dos abordados estavam consumindo o produto e pareciam sentir-se mais familiarizados com o cartaz da propaganda, como se houvesse ali um sentido de identificação e de pertença ao mundo do fast-food americano. Concordamos com Orlandi (2001), em que a cidade se diz no sujeito. Assim, esses sujeitos realizaram gestos de interpretação, como o que segue:
 
“Ah, eu acho que pelo fato também de ta se apresentando, né, que ta dando o ar da graça, diria que é a apresentação de um produto, e pelo fato também do chocolate ser aerado, então, como ele é aerado, então, pode ser também que o ‘ar de sua graça’ esteja associado a isso. E, também por, pelo fato de o chocolate ser aerado, então causa assim, uma sensação de leveza do produto, pode ser um produto gostoso, leve, causando leveza ao consumidor.”
 
            Nota-se quão diferente se faz esse gesto de interpretação daqueles (não) obtidos na rodoviária. O sujeito aqui, sem medo de estar errado, tece sua interpretação, analisando a marca linguística “ar”, presente na propaganda, com aerado, que pela memória discursiva nos remete à antiga propaganda do chocolate Suflair, do qual produziu-se o sorvete, hoje. Relacionando-a com “leveza ao consumidor”, o sujeito coloca-se numa posição discursiva denominada por Pacífico (2002) de função-leitor, isto é, uma posição ocupada pelos leitores que duvidam da transparência da linguagem, que percebem que o sentido pode ser outro, que realizam uma leitura sócio-histórica, em que os sentidos possíveis para “ar’ são atualizados, considerando-se, como já foi dito, que vivemos numa sociedade que valoriza comidas leves.  
Além disso, ao expor-se à opacidade do texto, o sujeito leva em conta que se trata de uma propaganda; portanto, este tipo de texto deve capturar o consumidor. Nossa análise baseia-se no significante “consumidor”, usado pelo sujeito ao construir seu dizer, o que nos indicia que ele não ignorou os elementos lingüísticos presentes na propaganda, vendo a mesma como um portador de texto cujo objetivo consiste em