Revista Rua


Sujeitos e sentidos no espaço urbano: o escrito "dá o ar da sua graça"
(Subject and meanings in urban space: writing shows up)

Aline Torrizella Périgo, Juliano Ricci Jacopini, Noemi Lemes, Soraya Maria Romano Pacífico, Lucília Maria Sousa Romão

(ORLANDI, 1996a), os sujeitos da pesquisa poderiam colocar os pesquisadores no lugar daqueles que esperam ouvir apenas um sentido correto, ou seja, uma única e correta resposta. Cabe aqui ressaltar que, uma das ilusões muito recorrentes nos estudos do/sobre o texto é a questão da interpretação única, da resposta exata relacionada ao que o autor quis dizer e do sentido garantido pelo próprio texto escamoteando o lugar do sujeito-leitor, o que instala o efeito de evidência (PÊCHEUX, 1995) e de literalidade do texto, como se este fosse o invólucro de uma “mensagem” a ser decodificada ou adivinhada pelo leitor. Em oposição a esta ilusão, a perspectiva discursiva sinaliza rupturas: a de que um texto não é terreno de exatidão, literalidade, transparência e univocidade, a de que não há uma mensagem ou um sentido único nos objetos simbólicos e a de que a interpretação reclama a escuta da posição do sujeito, da sua singularidade, do lugar de poder que ele ocupa, da imagem que ele atribui a si mesmo, ao outro e ao objeto em jogo, enfim, do discurso do sujeito-leitor. Nas palavras de Pêcheux (1993: 82), “O que funciona nos processos discursivos é uma série de formações imaginárias que designam o lugar que A e B se atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles se fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro”.
A imagem que os interlocutores fazem de si e do outro, isto é, “quem eu sou para que ele me fale assim?”; “quem ele é para falar assim comigo?"; “quem eu sou para lhe falar assim?”; “quem ele é para que eu lhe fale assim?” (PÊCHEUX, 1993: 83) interferem nas condições de produção do discurso que, para o autor (ibid.), são as “circunstâncias” de um discurso, tais como o “lugar” dos interlocutores, a relação com o contexto sócio-histórico, ou seja, a relação de sentido existente entre o enunciado e o interdiscurso (o já-dito, o já-lá), a situação na qual o discurso aparece, os mecanismos de antecipação que todo esse processo implica. Dessa maneira, o que funciona no discurso são as “formações imaginárias”, as “posições” assumidas pelos enunciadores do discurso que lhes conferem o poder de construir seus discursos apoiados em outros discursos que confirmam o “lugar” de onde cada um fala e, também, um jogo de antecipação das representações do enunciatário sobre a estratégia discursiva. Como era de se esperar, esse jogo de antecipações fez-se presente na relação dos interlocutores em questão (pesquisadores e transeuntes) e nos deu indícios de que os sujeitos estranhavam tanto a pergunta do pesquisador quanto aquilo que, ilusoriamente, o discurso urbano traria como sendo do conhecimento de todos, ilusoriamente acessível a todos, enfim, uma virtual marca de pertença de todos que circulam nas ruas das cidades em relação à