Revista Rua


Do outro lado do muro: regionalidade e regiões culturais
On the other side of the wall: regionalities and cultural regions

João Claudio Arendt

 

posições assumidas, cá ou lá, no campo das representações simbólicas por autores (na expressão de Bourdieu [1999]) premidos pela força das circunstâncias. Uma região engloba, desse modo, o espaço e os significados que se lhe atribuem, de modo que é autorizado incluir nela até mesmo as cidades – que não são, como se costuma afirmar, centros em torno dos quais as regiões meramente gravitam. Dito de outro modo, mais uma vez com a ajuda de Pozenato:

Uma determinada região é constituída, portanto, de acordo com o tipo, o número e a extensão das relações adotadas para defini-la. Assim, em última instância, não existe uma região da Serra ou uma região da Campanha a não ser em sentido simbólico, na medida em que seja construído (pela práxis ou pelo conhecimento) um conjunto de relações que apontem para esse significado. (2001)
 
Regiões são construídas de acordo tanto com as intenções dos seus autores/atores, quanto com os paradigmas que norteiam cada época histórica.
No campo da Geografia, por exemplo, que desde o século XIX tem se preocupado com a cientificidade das discussões sobre a região, o termo foi definido e redefinido inúmeras vezes, a ponto de se afirmar, em data recente, que ele estaria “fora de moda” (LENCIONI, 2001), ou enfraquecido – com alguns geógrafos sugerindo até a sua substituição por outros termos, como “regionalismo” ou “um espaço diferente” (CASTRO, 2002). Entretanto, de acordo com Lencioni, “a palavra região está presente no conhecimento elaborado desde a Antigüidade, caracterizado por inventários e pela intimidade entre o sagrado, o mítico e o real”, aparecendo “com destaque nos estudos sobre as diferenças e os contrastes da superfície da terra, que foi denominado, pelos gregos, de estudo corográfico” (2001, p. 187). Isso leva, de imediato, a imaginar a multiplicidade de abordagens de que a região já foi objeto ao longo do tempo, tanto na Geografia quanto nas demais disciplinas que se apropriaram dessa categoria a fim de operacionalizar seus problemas de pesquisa.
Procedendo a um inventário dos mais importantes antecedentes históricos do uso do termo região, desde o Império Romano até a formação dos Estados Modernos, Gomes (1995) acentua que dele derivam pelo menos três principais características:
1.     Que o conceito de região está imbricado com as noções fundadoras da discussão política, da dinâmica do Estado, da organização da cultura e do estatuto da diversidade espacial;
Que o debate acerca da região possui um forte componente espacial, ou seja, as discussões sobre política, cultura e economia relacionam-se às