Revista Rua


Do outro lado do muro: regionalidade e regiões culturais
On the other side of the wall: regionalities and cultural regions

João Claudio Arendt

 

1.     A hipótese da socialização: nascer e crescer em uma região (desde que as vivências aí sejam sobremaneira positivas) pode levar o indivíduo a se identificar afetivamente com ela e a manifestar sua loyalidade;
2.     A hipótese da qualidade de vida: se o indivíduo sente que sua região proporciona excelentes meios de sobrevivência – como empregos, escolas, lazer e cultura –, é provável que ele desenvolva um sentimento mais forte de loyalidade;
3.     A hipótese do conflito: a loyalidade do indivíduo pode aumentar, se ele e seu grupo se sentirem ameaçados por outros grupos. Em outras palavras, se uma região emite juízos negativos em relação à outra, é provável que cresça o sentimento de loyalidade entre aqueles da região diminuída.
Em síntese, segundo os autores, “a socialização, a qualidade de vida e também os conflitos com outros grupos são determinantes da identificação com uma região (MÜHLER; OPP, 2004, p. 27 – tradução minha). As três hipóteses acerca da loyalidade podem ser aplicadas ao estudo das regiões culturais, já que se fazem presentes não apenas no discurso de indivíduos leigos, mas também de autoridades políticas, religiosas, intelectuais, educacionais e artísticas que hasteiam a bandeira do regionalismo por força de interesses e de relações afetivas com a região de origem ou de atuação.
Identificar-se com uma região não significa, por outro lado, ser loyal a ela em todos os sentidos. Como afirmei anteriormente, também existem forças internas à região (e não apenas externas, como propõem Mühler e Opp) que estão em constante litígio pela autoria e hegemonia das representações simbólicas. Nesse sentido, cada facção defende o que julga adequado ao engrandecimento da região, considerado aqui o histórico dos litigiantes e do objeto de litígio. E meu exemplo aporta outra vez na Serra Gaúcha (por uma razão que o leitor já deve ter deduzido), onde as representações simbólicas hegemônicas emanam fortemente do poder público e econômico, e procuram a adesão incondicional de todos os habitantes serranos. O exemplo a seguir, retirado da página da Secretaria Municipal do Turismo, é elucidativo:

Caxias do Sul é hoje, o pólo centralizador da região mais diversificada do Brasil, com seus laboriosos colonos, seus vastos parreirais, suas vinícolas, seu variado parque industrial e um comércio rico e dinâmico; dando a esta terra uma dimensão ainda maior, razão essa que “Caxias do Sul”, a “Capital da Montanha”, a “Pérola das Colônias”, a “Colméia do Trabalho” é, por si só, o pólo centralizador da marca italiana no sul do Brasil.[3]


[3] http://www.caxias.tur.br/historia.php Acesso em 02 de abril de 2011. NOTA: os erros de linguagem no trecho citado correm por conta do original.