Revista Rua


Do outro lado do muro: regionalidade e regiões culturais
On the other side of the wall: regionalities and cultural regions

João Claudio Arendt

 

Proclamando Caxias do Sul o “polo centralizador da região” da Serra, o discurso oficial tenta exibir, de um só lance, todas as qualidades regionais que o município supostamente sintetiza. E é na forma de adjetivar a lavoura (vitivinicultura), a indústria e o comércio (como laboriosos, vastos, variados, ricos e dinâmicos) que se verifica a “hipótese da qualidade de vida”, de que falam Mühler e Opp. Entretanto, o regionalismo aí expresso é tão potencializado, que distorce a percepção da realidade: a assertiva de Caxias do Sul ser “o pólo centralizador da região mais diversificada do Brasil” choca-se com a ideia expressa logo a seguir, segundo a qual também seria “o pólo centralizador da marca italiana no sul do Brasil”. Ora, se ela é a região mais diversificada do país, deveria ter, supostamente, outras “marcas” além da italiana.
Em uma das cidades vizinhas, Bento Gonçalves, a “hipótese da qualidade de vida” também se manifesta como epíteto do cenário regional:

Bento Gonçalves é um dos mais belos e importantes roteiros turísticos da Serra Gaúcha. A vocação industrial e turística, as paisagens ‘bordadas de parreirais’ e a garra de seu povo fazem da cidade um lugar acolhedor e de natureza exuberante.[4]
 
Assumindo igualmente a perspectiva regionalista, aqui o discurso oficial elege o turismo, a indústria e a paisagem vitivinícola como bandeiras para angariar a loyalidade dos serranos e a simpatia dos turistas. A qualidade de vida também se destaca na “hospitalidade”, no “clima romântico da Serra”, no “bom vinho” e na “farta gastronomia, herdada dos imigrantes italianos”[5]. Mas o carro-chefe da qualidade de vida parece ser mesmo a paisagem, em que se mesclam fenômenos naturais e culturais, compondo uma espécie de idílio romântico:
As temperaturas tipicamente européias, que chegam a até três graus negativos no inverno, proporcionam um espetáculo magnífico da natureza. As quatro estações bem definidas garantem também uma mescla de paisagens, que incluem os vales bordados de parreirais no verão, o colorido bucólico do outono, as frias manhãs de inverno com os vales cobertos de geada e o exuberante colorido da primavera[6].