Revista Rua


Reescrevendo espaços: VRBS e natureza nas Silvae
Rewriting Spaces: VRBS and nature in the Silvae

Leni Ribeiro Leite

Digna deae sedes, nitidis nec sordet ab astris. 147
hic Libycus Phrygiusque silex, hic dura Laconum
saxa uirent, hic flexus onyx et concolor alto
uena mari, rupesque nitent quis purpura saepe
Oebalis et Tyrii moderator liuet aeni.
pendent innumeris fastigia nixa columnis,
robora Dalmatico lucent satiata metallo.
excludunt radios siluis demissa uetustis
frigora, perspicui uiuunt in marmore fontes.
nec seruat natura uices: hic Sirius alget,
bruma tepet, uersumque domus sibi temperat annum.
Exsultat uisu tectisque potentis alumnae
non secus alma Venus quam si Paphon aequore ab alto
Idaliasque domos Erycinaque templa subiret. 160
 
A morada é digna da deusa, e nem esmaece frente aos astros brilhantes.
Aqui, pedra Líbia e Frígia; lá a dura rocha Espartana verdeja,
Adiante, variegado ônix e o veio da cor do mar profundo,
E brilham as pedras que a púrpura de Ebália
E o que mistura o caldeirão tírio muito invejam.
Elegantes telhados apoiam-se em inúmeras colunas,
As traves luzem, cobertas de metal Dalmático.
Um frescor, descido de árvores vetustas, expulsa os raios do sol,
Fontes translúcidas ganham vida no mármore.
Nem segue a natureza sua ordem: aqui Sirius resfria-se
o inverno é morno, a casa modela o ano a seu gosto.
Vênus graciosa exulta com a visão dos tetos de sua poderosa protegida
não menos do que se entrasse em Pafos, do alto mar, e sua casa Idália ou os templos de Érix.
 
A êcfrase da casa de Violentilla é particularmente complexa porque está posta entre a realidade e o mito. Ela é parte de uma narrativa mitológica, como a colcha de Peleu e Tétis, mas a casa pertence a uma pessoa, a noiva de Stella, e está situada no coração de Roma. Além disso, a descrição é feita a partir do ponto de vista de Vênus, quando ela chega à casa para combinar o casamento entre Violentilla e Stella.

O tratamento do tema é pouco convencional; a jovem nubente é apresentada não através do corpo feminino, mas através da casa. A casa é o objeto através do qual a identidade feminina de Violentilla é construída e explorada. A descrição que Estácio faz da casa de Violentilla articula as virtudes convencionalmente femininas da beleza e castidade com o status social e econômico da noiva e suas origens culturais, o que traz uma nova vitalidade ao conceito de tradição e família romanas. O fato de que a casa pertence a uma mulher – quando, em Marcial VI.47 sabemos que Stella também possuía uma magnífica casa, repleta de obras de arte – e não de um homem da elite é uma reinterpretação de códigos culturais.