Revista Rua


Reescrevendo espaços: VRBS e natureza nas Silvae
Rewriting Spaces: VRBS and nature in the Silvae

Leni Ribeiro Leite

A descrição da uilla em II.2 se faz em estágios, gradualmente ascendendo do litoral, embaixo, até a construção localizada no topo de um penhasco, e então, dentro da uilla, por diversos cômodos, até o mais belo deles, que se situa no ponto mais alto do terreno. (Siluae 2.2,1-94). Diferentemente de Plínio, que localiza o seu luxo e ócio a céu aberto, no jardim, e cujas uillae são ao menos descritas como menos ornamentadas por dentro do que por fora, Estácio também enfatiza a beleza dentro da casa, como vimos no poema I.2 e aqui, no II.2. A natureza, já domada, agora aparece dentro do espaço humano – como o jardim de Melior, dentro do espaço urbano – de forma ordenada para servir ao homem. No poema sobre a uilla de Pólio, a descrição culmina em um cômodo cuja profusão de mármores das mais distantes proveniências são uma face imóvel e dócil da natureza.

2.2.90-91
hic et Amyclaei caesum de monte Lycurgi
quod uiret et molles imitatur rupibus herbas
 
Aqui também há, extraído da montanha do Amicleu Licurgo, mármore
que, em tons de verde e embora pedra, imita a relva suave.
 
O poema 5 do primeiro livro das Siluae é uma descrição dos banhos construídos na propriedade de Cláudio Etrusco. Nos primeiros versos, o poeta informa que o poema é apenas um descanso de seu trabalho sério, ou seja, a composição da Tebaida. Mais adiante, a descrição da seleção de mármores coloridos decorando os banhos elegantes de Cláudio Etrusco, o próspero filho de um liberto imperial, não admite nada da pobreza (nil plebium est), transforma o espaço privado em um bosque das Musas (non unquam aliis habitastis in antris / ditius) e não perde na comparação com o salão de banquetes de Domiciano, objeto de descrição no poema IV.2. Neste, cinco diferentes tipos de mármore são nomeados, e mais de cem colunas competem com Atlas na habilidade de carregar tamanho peso sobre os ombros. Frequentemente os mármores, as jóias e outros objetos de luxo são nomeados através de referências a sua origem: numídio, frígio, egípcio, mostrando que as suas descrições são direcionadas a um público culto.  
Os banhos de Cláudio Etrusco com seus mármores retirados das pedreiras imperiais são um sinal do poder e opulência de Roma, tanto quanto a estátua equestre de Domiciano, tema do primeiro poema das Siluae, em si uma extensa êcfrase. Ao descrever uma mesa de pés de marfim, Marcial também se insere no espírito laudatório