Revista Rua


Reescrevendo espaços: VRBS e natureza nas Silvae
Rewriting Spaces: VRBS and nature in the Silvae

Leni Ribeiro Leite

Vênus e seus cisnes se aproximam da casa, e são capazes de vê-la ao longe, porque ela é alta (v. 145). Tradicionalmente, no discurso moralístico romano, a altura da construção era um paradigma de luxo, e consequentemente de decadência moral. Na êcfrase de Estácio, um valor positivo é dado à altura da casa, que se pode ver mesmo em meio à grande quantidade de construções da cidade. A altura da casa é frequentemente usada como um sinal de poder masculino; aqui, no entanto, é correlacionado à altura do corpo feminino de sua possuidora, que já havia sido descrita por Vênus como mais alta do que a maioria das matronas romanas (114-116). Mas a altura é, certamente, mais do que uma marca física. Também representa status, em relação à posição social superior de Violentilla, um símbolo de superioridade econômica e moral.
A casa de Violentilla é luxuosa nas proporções e nos materiais que a adornam – mármore e ouro. O luxo aqui é valorizado através da aproximação entre valor material e moral. A importância social e econômica de Violentilla é ainda reforçada pela grande quantidade de materiais nobres em sua casa. As muitas colunas que suportam o telhado (v. 152) eram um elemento da arquitetura pública aplicado à arquitetura privada para dar-lhe grandiosidade, e era usado especialmente nos átrios e salões próprios para receber os clientes. Os mármores em profusão falam de riqueza – enquanto o mármore branco podia ser encontrado na própria Itália, os mármores coloridos da casa de Violentilla eram necessariamente importados. Os mármores coloridos estavam na moda durante o império, e a casa descrita no poema é não só rica, mas decorada ao gosto da época. Desde o primeiro século d.C., a extração de mármore era um privilégio imperial – logo, o mármore mostrava associações com a casa imperial.
A casa é digna de uma deusa. (v. 147). Os mármores de sua casa, no entanto, não são brancos como a pele desejável: eles são de tonalidades purpúreas e esverdeadas, as cores da violeta (uiola). A violeta era, na literatura, um símbolo da juventude, bela, mas fugaz. Ao transmutar as flores em pedras, Estácio altera esta associação, e representa não mais a fragilidade da mulher, mas seu poder. Uma das formas que Estácio usa para se afastar das imagens tradicionais do epitalâmio é seu tratamento do tema da castidade em substituição ao da virgindade. Ao invés da imagética tradicional das flores e frutos, ele apresenta a imagem da casa, muito mais substancial e duradoura.
No entanto, a natureza está presente na casa, nos versos 154-155, em que surgem o bosque e a fonte, que recuperam imagens igualmente ligadas à feminilidade e virgindade, mas aplicando-as à castidade de Violentilla. A descrição remete ao locus amoenus que vemos proeminentemente associado à virgindade, como nas