Revista Rua


Reescrevendo espaços: VRBS e natureza nas Silvae
Rewriting Spaces: VRBS and nature in the Silvae

Leni Ribeiro Leite

sociais. Assim, a virtude, e não a origem de uma família tradicional, é o motivo de proteção dos deuses, ou de uma posição de prestígio; a riqueza, quando bem utilizada, é marca de bom gosto e merecimento. A poesia de Estácio mostra uma atitude muito diferente da tradicional em relação ao luxo e ao uso do dinheiro para fins particulares; a riqueza é apresentada como uma virtude, ou ao menos um elemento que põe em evidência a virtude de seu possuidor.
Um dos temas de maior relevo nas Siluae é o da obra de arte, incluindo aí a obra arquitetônica. O objeto artístico, ou a construção artística, são temas frequentes o bastante em Estácio e infrequentes o bastante na poesia para serem considerados no renascimento como marca individual deste poeta e a êcfrase como recurso típico da poesia flaviana.
Ruth Webb (2009) e James Francis (2009), entre tantos outros, escreveram satisfatoriamente sobre este tema. Francis cita, a título de exemplo, mas como representativa da definição de ekphrasis no mundo antigo, a de Téon: “Ekphrasis é linguagem descritiva, trazendo o que é retratado claramente diante dos olhos. Há ekphrasis de pessoas e eventos e lugares e períodos de tempo.” (FRANCIS, 2009, p.4). Segundo Webb, o termo ekphrasis desenvolveu-se tardiamente e definia, na antiguidade, apenas uma descrição evocativa, que punha o objeto diante dos olhos, sub oculos subiectio, como diz Quintiliano.
O próprio Quintiliano fala mais especificamente de descrições ficcionais de eventos ou situações: Consequemur autem, ut manifesta sint, si fuerint uerisimilia; et licebit etiam falso adfingere quidquid fieri solet. “Obteremos, porém, se forem verossímeis, que sejam claros; e sera permitido também inventar elementos falsos, quando costumam ocorrer.” (Inst. 8.3.70) e Nec solum quae facta sint aut fiant sed etiam quae futura sint aut futura fuerint imaginamur. Mire tractat hoc Cicero pro Milone, quae facturus fuerit Clodius si praeturam inuasisset; “Não representamos só o que aconteceu ou está acontecendo, mas também o que poderá ou poderia acontecer. Cícero o fez admiravelmente no Pro Milone, quando descreveu o que Clódio teria feito se tivesse se tornado pretor.” (Inst. 9.2.41)
Carole Newlands (2002, p.39) afirma que: “obras de arte ou de arquitetura são sinais complexos que expressam mitos sociais e políticos poderosos em linguagem visual. A êcfrase, portanto, oferece uma estratégia significativa para o poeta do elogio, pois a exploração de um signo complexo pode convidar à interpretação e interrogação de sua mitologia subjacente.” Sabemos que tanto Estácio como Marcial foram vítimas