Revista Rua


Reescrevendo espaços: VRBS e natureza nas Silvae
Rewriting Spaces: VRBS and nature in the Silvae

Leni Ribeiro Leite

Metamorfoses de Ovídio, nos episódios do rapto de Perséfone (em que ela colhia violetas e lírios em um lugar semelhante antes de sua abdução por Plutão) e de Narciso, entre outros: as árvores vetustas deixam de fora os raios solares e preservam o frescor de fontes puras. No entanto, de forma geral esses cenários não protegem as personagens, mas são o local de atos violentos de paixão, sendo particularmente perigosos para mulheres ou homens feminilizados. Em Ênio, Ília é estuprada por Marte em meio a um salgueiral ameno; o lago de Narciso tem água transparente como vidro, mas é totalmente protegido dos raios solares, um cenário fatal para a eterna virgindade.
Na casa de Violentilla, porém, as fontes vivem no mármore. Suas águas claras representam a sua pureza, mas também sua vivacidade, sugerindo poder procriativo; o mármore, porém, é o sinal do ambiente controlado pela mão humana. Enquanto em Ovídio o mármore é a perfeição da pele de Narciso (este é descrito como uma estátua de mármore – 3.419 – e “com mãos marmóreas” – 3.481), na casa de Violentilla o brilho do mármore é transferido de volta da pele para a rocha, onde reflete não a beleza da dona, mas seu controle, seu poder de construir – ou seja, não sua virgindade, que é um dom natural, mas sua castidade, que é uma virtude da independência e do autocontrole.
A poesia de Estácio oferece, portanto um novo locus amoenus, um espaço seguro em que a natureza está sob o controle humano, e os deuses vêm visitar para auxiliar os homens, e não para destruí-los. A paisagem ideal de Estácio está localizada dentro de uma mansão, reformulando os ideais de beleza e castidade, onde eles se tornam não uma representação da fugacidade e fragilidade, mas de poder e autoridade femininos.
A natureza deixa de representar a paixão, o perigo, o indomado ou o incontrolável para representar justamente o poder, o autocontrole: a casa controla o clima e cria uma temperatura amena o ano todo (v.157). Em um conjunto de paradoxos, somos informados de que a casa brilha, mas não deixa entrar os raios solares; que o calor intenso do verão (Sírius) é resfriado dentro da casa; e que o inverno mais rigoroso é ali confortavelmente morno.
>A natureza é moldada pela mão do homem, em algumas situações deve ser combatida ou domada, de forma a se adequar aos desígnios humanos, o que ela sempre acaba por fazer. Um exemplo é o poema III.1, a dedicação de um templo a Hércules na propriedade de seu amigo, Pólio Felix. No início do poema, Pólio é um novo pauper Molorchus: apesar das riquezas no entorno, a região onde se encontra o templo de Hércules é pobre, o templo em si, risível. No entanto, Estácio não se entretém cantand