Revista Rua


Reescrevendo espaços: VRBS e natureza nas Silvae
Rewriting Spaces: VRBS and nature in the Silvae

Leni Ribeiro Leite

lado de fora, ou seja, em um hortus, um “jardim” – faz com que os três primeiros livros de Odes toquem no âmago da auto-imagem cultural da elite augustana. Esta organização paisagística do espaço é conceitual e intelectual ao mesmo tempo em que é física, e se reflete nas próprias uillae e nas artes plásticas do período.
Aqui se faz necessário um breve excurso sobre as artes plásticas em Roma, em especial no que tange às pinturas de paisagens no período Augustano. Estudos recentes acerca das pinturas de paisagens na Roma antiga tendem a se focar não mais nos estilos, já bastante debatidos e delimitados, mas na retórica do espaço. Assim como estilos anteriores de pintura mural brincavam com perspectiva e com a ilusão arquitetônica – criando janelas em paredes sólidas, as pinturas de paisagens que se tornaram comuns na Roma de Augusto representavam, a princípio, imagens realistas de elementos naturais. A verossimilhança, porém, deve-se acomodar a regras bastante rígidas de organização de elementos e de representação de significados.
As pinturas de paisagens naturais nas paredes romanas são representações do locus amoenus poético, o lugar comum que serviu, tanto na poesia como nas paredes, como complemento pictórico do saeculum aureum, seus valores e seus ideais. As pinturas da natureza nessas paisagens eram uma forma de ostentar e popularizar um conjunto de ideias que afirmavam o poder de Augusto e seus ideais para a sociedade.
Ainda que esse tipo de pintura se origine no período augustano, os principais exemplares que ainda possuímos dele datam do primeiro século, mas do segundo ao quarto século as paisagens nas paredes são parte de um repertório fixo de gêneros artísticos, repetidos, portanto, em frisos, mosaicos e outros objetos artísticos, além das próprias paredes. Assim como as paisagens de tinta se espalharam por tantos lugares e chegaram aos olhos também dos escravos, libertos e outros elementos da população romana, na poesia a paisagem bucólica, o locus amoenus lírico, a natureza agreste vergiliana e horaciana estão prontos a serem reutilizados e remanejados pelos poetas das gerações posteriores.
No poema V.3, um lamento pela morte de seu pai, Estácio compara a sua vida à de Horácio, mas é no poema IV.5 que os ecos horacianos se ouvem com mais força. Ao escrever o elogio de Septímio Severo, avô do imperador, Estácio já começa com elementos reconhecidamente líricos e agrestes: