Revista Rua


Reescrevendo espaços: VRBS e natureza nas Silvae
Rewriting Spaces: VRBS and nature in the Silvae

Leni Ribeiro Leite

natureza no poema II.3 é quase agreste, descrita em linguagem ovidiana. A casa não é descrita, mas apenas o seu jardim; em contraste com os jardins de Plínio o jovem, com topiaria sofisticada, estátuas e fontes, o jardim de Melior é mais rústico, com apenas árvores e um lago com aparência natural. As palavras do poeta criam no poema II.3 um mito que explica o pequeno lago e a árvore que sobre ele pende ao estilo ovidiano: uma ninfa, perseguida por Pan, teria se escondido no lago, com o auxílio de Diana. O brilho é dado pelas palavras de Estácio, que cria um mito romano para celebrar não as tradicionais virtudes cívicas, esperadas no cenário urbano romano, mas a vida à parte do espetáculo público. Segundo o poeta, neste jardim com origens mitológicas e morais próprias, cria-se um espaço no urbano, mas à parte do urbano, um nicho encravado em Roma onde se pode cultivar poesia, amizade e virtude, mesmo no espaço da capital:
 
cui nec pigra quies nec iniqua potentia nec spes 66
improba, sed medius per honesta et dulcia limes,
incorrupte fidem nullosque experte tumultus
et secrete, palam quod digeris ordine uitam,
idem auri facilis contemptor et optimus idem 70
promere diuitias opibusque immittere lucem:
 
Não são para ti o repouso preguiçoso nem o poder injusto,
nem a ambição desonesta, mas sim o caminho do meio, entre o bem e o prazer.
De fé incorruptível e desconhecedor de paixões,
ordenando a vida em privado mas na frente de todos,
ao mesmo tempo desprezando a riqueza fácil
e o melhor em exibir sua riqueza e lançar luz sobre sua fortuna
 
Temos aqui um excelente exemplo do uso dos paradoxos e das antíteses em Estácio; além disso, o jardim de Melior reflete aquelas características de seu dono tão incomumente louvadas na literatura latina: o fato de que ele não se dedica à vida pública e que é dono de grande fortuna, que exibe em sua propriedade.
A natureza está em consonância com as necessidades humanas, no caso de Attedius Melior, oferece a ele um espaço natural poético, com ressonâncias horacianas e ovidianas, dentro da capital do império, realçando a sua dignidade como dono de uma propriedade em um lugar privilegiado, mas mantendo a separação, como uma alternativa à Roma, lugar da ambição e da incerteza. No poema I.2, o epitalâmio de Stella e Violentilla, a natureza também é rus in urbe, ao ser representada como parte integrante da casa da noiva. A casa de Violentilla é descrita, em um processo ecfrástico que invoca o usado por Catulo no poema 64,