Revista Rua


Reescrevendo espaços: VRBS e natureza nas Silvae
Rewriting Spaces: VRBS and nature in the Silvae

Leni Ribeiro Leite

infecunda, e que transforma antros habitados por feras
em locais úteis, e traz à luz as deidades escondidas
pela vergonha. Que prêmios agora te oferecerei pelo seu mérito?’
 
Ao fim do poema, Hércules visita o templo durante os jogos, e homenageia Pólio e sua esposa, Polla. Nas palavras de Hércules, o espírito de Pólio é homenageado em paralelo às suas riquezas, como duas virtudes iguais e mutuamente determinantes. Essas duas características elogiadas pelo deus são a razão de ser Pólio o responsável por uma mudança para melhor na natureza deserta e infecunda do lugar; ele é o homem que, com suas qualidades, fecunda, embeleza, aprimora a natureza.
Neste poema, a natureza é domada para dar lugar a uma uilla. A uilla, uma novidade arquitetônica romana, sem precedentes gregos, e que, portanto oferecia um desafio ao poeta, era o local do otium, um modo poderoso de se auto-definir para a elite imperial. A uilla pode ser definida como a contraparte concreta e visual do otium. Nos poemas I.3, II.2 e III.1, a uilla é não só uma maravilha da arquitetura e tecnologia, mas representa também as virtudes de seus moradores. Em Estácio, a riqueza e o luxo, quando usadas de maneira sábia, são a marca da virtude. (NEWLANDS, 2002, p.127-138).
No poema I.3, o primeiro a cantar uma uilla, natureza e arte humana estão essencialmente em harmonia; já no poema II.2, sobre a construção da uilla de Pólio, o que há é uma luta épica contra a natureza, rude e pertinaz. (NEWLANDS, 2011, p.13).
 
2.2.52-53
his fauit Natura locis, his uicta colenti
cessit et ignotos docilis mansueuit in usus.
 
A natureza favoreceu alguns lugares; em outros, vencida,
cedeu ao cultivador e amansou-sem em novas e gráceis maneiras.
 
No verso 56, a expressão usada é domuit possessor, isto é, o dono a domou – a natureza. Apenas depois de domada pela mão humana a natureza entra em harmonia com as necessidades humanas. Estácio adapta para a uilla sua contemporânea aquela mesma uma metáfora pertencente à retórica romana, de uma casa cujos cômodos são depositórios de memória, através dos quais o orador se movimenta nos diversos estágios de seu discurso. (Quintiliano, Inst. 11.2.11-22). Ao levar o leitor em um tour da uilla de Pollius, Estácio fixa na memória do ouvinte vários pontos de interesse, honrando e memorializando seu anfitrião.