Revista Rua


Uma enunciação sem comunicação: As tatuagens escriturais
An utterance without communication: the scriptural tattoos

Marie-Anne Paveau

A primeira configuração é muito freqüente e corresponde ao discurso de numerosos tatuados. Em sua memória sobre as tatuagens, S. Dupont recolhe testemunhos deste tipo em suas pesquisas, por exemplo, Jean:
 
Je veux pas qu’il puisse se voir en position, je veux dire, on va dire quand je suis habillé, normalement, en jean T-shirt je veux pas que ça voie
Je veux pas que ce soit quelque chose d’ostentatoire, c’est pour moi que je le fais, c’est pas pour les autres, quoi, euh on va dire c’est pour mon bien-être
[...] le côté quand même un peu ça se voit sans se voir c’est quand même sympa (Dupond 2006)
[“Eu não quero ver onde ela se encontra, eu quero dizer, digamos quando eu me visto, normalmente, em jeans T-shirt eu não quero que isso se veja/Eu não quero que isso seja alguma coisa que se ostenta, é para mim que eu a fiz, não é para os outros, que euh vamos dizer é para meu bem estar/[...] a parte assim mesmo que um pouco isso se veja sem se ver é assim mesmo simpática (DUPOND, 2006)]
 
 
E de fato, quadris, nádegas, peito ou barriga são zonas comuns de tatuagem.
A segunda configuração é a mais rara, meu corpus só inclui três tatuagens no interior do corpo: ela se refere às pessoas que têm respectivamente as palavras alien, pork! e pony sobre parte interna do lábio inferior, no sentido da leitura de um olhar exterior (coletado em SALTZ, 2006: 80, 81 e 101). A portadora de alien explica: “It’s an unseen place, and represents a feeling of separateness, of not belonging [“É um lugar que não vemos nunca, e isso representa um sentimento de separação, de despertencimento.”].” O segundo é cozinheiro em um restaurante de empresa e ele explica sua tattoo pork! por uma relação com seu trabalho, reencontrando a velha tradição da tatuagem profissional. A terceira é de uma cantora de ópera: “I’m an opera singer so I couldn’t have a tattoo in a