Revista Rua


Uma enunciação sem comunicação: As tatuagens escriturais
An utterance without communication: the scriptural tattoos

Marie-Anne Paveau

Le renouvellement des corps d’exemples n’est pas toujours dû à des renouvellements théoriques (il peut y avoir des raisons purement idéologiques qui tiennent au contenu qu’expriment aussi les exemples). Mais les changements théoriques profonds s’accompagnent souvent du changement des exemples. Cela se voit particulièrement lorsqu’il y a une extension du champ des phénomènes que l’on prend em compte.
S. Auroux, La Raison, le language et les normes
[A renovação dos corporas de exemplos nem sempre ocorre em decorrência das renovações teóricas (ela pode ter razões puramente ideológicas que sustentam o conteúdo, que exprimem também os exemplos). Mas as mudanças teóricas profundas são acompanhadas com freqüência pela mudança de exemplos. Isso se vê particularmente quando há uma extensão do campo dos fenômenos que se leva em conta.]
 
Mon tatuage sur le poignet, c’est un symbole bouddhiste, je l’ai fait pour moi, c’est pour pouvoir le regarder quand je dessine et que je fais de la calligraphie. Celui sur la poitrine, c’est pour pouvoir le voir dans le miroir.
Jean-François, vendedor da livraria Mona Lisait, julho de 2008.
[Minha tatuagem no pulso é um símbolo budista, eu a fiz para mim, para poder olhá-la quando eu desenho e faço a caligrafia. A do peito é para poder vê-la no espelho.]


INTRODUÇÃO


As tatuagens foram até hoje, nas ciências humanas e sociais, objetos da antropologia ou da filosofia (LE BRETON, 1992, 2002, 2003; ANDRIEU, 2003, 2004a e b), da arqueologia (RENAUT, 2004), da psicanálise (ANZIEU, 1985; TENENHAUS, 1995) ou da medicina (LACASSAGNE, 1881; GILBERT, 1970; TAGNAOUTI, 1979). Mas ainda não foram examinadas sob o ponto de vista discursivo ou textual, que as aborda seja a partir da literatura, da lingüística, gráfica ou semiótica. Começamos justamente a considerar as tatuagens (escritas ou desenhadas) como escrituras corporais, grafemas na pele que constituem ao mesmo tempo um discurso do corpo e um discurso sobre o corpo, o que tenho chamado de corpografese[2] (PAVEAU, 2006, 2007a). Falar de escritura não implica em princípio somente a produção de enunciados, mas também sua recepção e sua leitura,


[2] N.T.: Conforme a autora, corpografese é um neologismo forjado a partir de homographesis, de Lee Edelman, ele mesmo um neologismo para dizer a escritura do homossexual, que Pierre Zoberman tem traduzido por homographèse. A corpografese é um neologismo forjado para nomear a escritura do corpo.