Revista Rua


Rememoração/Comemoração no Discurso Urbano
(Rememoration/commemoration in the urban discourse)

Maria Cleci Venturini

atualidade, o fio do discurso, que abarca, em uma mesma rede de formulações, discursos que retornam, às vezes, re-significados pelo processo polissêmico, e, em outras, como pura repetição. Nesse processo, as redes parafrásticas podem solidificar o mesmo, ou romper com a estabilidade e instaurar o novo. 
 
REMEMORAÇÃO: DISCURSO DE
 
A rememoração, na perspectiva da teoria do discurso, funciona como espaço discursivo, nos termos de Pêcheux (1983/2002), e como domínio de memória, nos termos de Courtine (1981). Por esse olhar, observamos o funcionamento dos pré-construídos (pelos processos de articulação e encaixamento), em que o interdiscurso retorna como discurso transverso e regula para o sujeito enunciador as condições de produção do discurso e o modo de apresentação dele. A rememoração, como memória, ancora o discurso de comemoração, dando visibilidade, pela formação discursiva, ao sujeito interpelado pela ideologia e atravessado pelo inconsciente. Ela é constitutiva da memória do espaço urbano, instaurando-se pela urgência da formação social em comemorar. Podemos dizer, em relação a isso, que a rememoração fornece o modo de funcionamento da comemoração pelos gestos e rituais que se materializam no discurso como o “fazer memória” pela institucionalização e pela legitimação da celebração de nomes ou eventos significativos para os sujeitos/cidadãos que habitam o espaço urbano.
A rememoração, de um lado, fornece ao domínio da atualidade os vestígios de um passado que retorna como recordação e, de outro, legitima a interpretação desses vestígios pelos valores sociais do presente. Sua função é instaurar e sustentar a comemoração e os discursos que a materializam. Nesse movimento, conjuga representação-interpretação e o devir, podendo ser vista, ao mesmo tempo, como gesto de recordação, de atualização e de prospecção, recobrindo o passado, como tempo ideal, o presente como o paradigma para a interpretação do passado, e o futuro, como um devir, que se constitui pelo que é comemorado no espaço das cidades. 
A memória, apesar de comportar a falta e a falha, atualiza-se e é sustentada por discursos que retornam e pelo lugar de memória, em seu duplo funcionamento: como lugar que guarda vestígios dos objetos culturais que os rituais de comemoração convocam e celebram, e como o lugar em que esses objetos são ressignificados, não somente como rastros do passado, mas como um movimento contraditório de interpretação desse passado em função de um presente e de um futuro. A rememoração