Revista Rua


Rememoração/Comemoração no Discurso Urbano
(Rememoration/commemoration in the urban discourse)

Maria Cleci Venturini

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
 
Neste artigo, nosso enfoque é a rememoração/comemoração como noções que funcionam juntas no eixo da formulação pela memória discursiva. Para dar conta desse objetivo, estruturamos o texto em quatro partes. Na primeira, abordamosa rememoração e a comemoração como noções advindas da História e da Antropologia nos funcionamentos e definições dadas nesses domínios do conhecimento. Em seguida trabalhamos as duas noções na teoria do discurso: a rememoração que entendemos como discurso de, na segunda parte e a comemoração como discurso sobre, na terceira parte. Na quarta parte enfocamos a rememoração/comemoração como prática discursiva, bem como os procedimentos discursivos de constituição do sentido desse discurso no espaço urbano pela noção de memória discursiva, espaço da formulação, onde a atualidade (eixo horizontal) e a memória (eixo vertical) se imbricam. 
Os procedimentos que entendemos como prática discursiva constitutiva de umimaginário urbano, no discurso de rememoração/comemoração, são aqueles observados no corpus analisado em nossa tese, em que o espaço urbano delimitado é Cruz Alta, uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, que se representa para dentro e fora dos seus limites como “a terra de Érico Verissimo”, constituindo-se como igual ou semelhante a pelos discursos que circulam na cidade e legitimam essa representação. O objeto de análise é o discurso de rememoração/comemoração em torno de Érico Verissimo, em um recorte temporal que vai de 1969 a 2006. 
Estruturamos a análise a partir de dois eixos. O primeiro constitui-se dos procedimentos de “fazer-crer”, descritos por De Certeau (1994), como formas de “fazer-ver” e compõe-se do mobiliário social urbano da cidade (imagens e placas, que funcionam como textos) e o segundo, de textos que encaminham para o discurso de rememoração/comemoração no espaço urbano (o lugar de memória) advindos dos lugares que o sustentam, quais sejam: o museu (lugar que organiza o que pode e deve ser dito em torno do escritor), a Universidade de Cruz Alta, o Poder Público e a Mídia.
Os conceitos de espaço urbano, cidade e de imaginário urbano em nossa investigação são aqueles trabalhados por Orlandi (2001, 2003, 2004a, 2004b). Definimos a cidade como um texto que se dá a ler, apresentando-se, às vezes, como uma página em branco, e em outras, como uma página preenchida, que encaminha para a saturação, pelo efeito de evidência e de homogeneidade.