Revista Rua


Rememoração/Comemoração no Discurso Urbano
(Rememoration/commemoration in the urban discourse)

Maria Cleci Venturini

Pêcheux (id.), ele se constitui como agente de contradições e deslocamentos, porque circula entre o mundo que existe e a possibilidade de existência de “um outro mundo”.
O sujeito porta-voz no discurso de rememoração/comemoração é o sujeito autorizado a dizer o que diz. Assume o lugar de sujeito enunciador, conforme Pêcheux (1997a), instituindo-se como o responsável pelo dizer. O sujeito, no discurso sobre, é da ordem do não-totalmenteconsciente. O dizer materializa-se na tensão entre o já-dito do interdiscurso, como o que significa antes em outro lugar e retorna pelo efeito do discurso transverso, re-inscrevendo o dizer no eixo da formulação. O sujeito é responsável pelo dizer institucionalizado, e a partir do lugar de memória, institui um “nós” coletivo que emerge dos lugares que sustentam a rememoração/comemoração como o lugar, que organiza, atualiza e distribui os dizeres e saberes que podem/devem entrar na ordem do discurso.
 
REMEMORAÇÃO/COMEMORAÇÃO: PRÁTICA DISCURSIVA
 
Neste artigo, enfocamos a rememoração e a comemoração, em um primeiro momento, a partir da História e da Antropologia e depois cada uma delas, em seu funcionamento discursivo. Nessa perspectiva, a rememoração como discurso de sustenta a comemoração – o discurso sobre – que institucionaliza o dizer. Sinalizamos, também, desde o início, que nesta quarta parte, explicitaríamos a rememoração/comemoração, que grafamos juntas, como uma noção, em que a rememoração nos seus dois funcionamentos (memória e discurso fundante) é tomada como o que se repete e inscreve o dizer em redes de memória na comemoração – atualidade.
No eixo da formulação, tendo como fio estruturante a memória discursiva, essas duas noções não se separam, pois memória e atualidade constituem uma materialidade de sentido. Não há como separá-las, por isso grafamos com travessão. O interdiscurso, que corresponde ao que já-dito significa no eixo da atualidade, mas nem sempre se lineariza, retornando como discurso transverso.
      A memória discursiva é mobilizada diferentemente por Pêcheux (1999), Orlandi (2002a, 2003, 2004) e Courtine (1981). Para Pêcheux (1999: 52), os enunciados que constituem a memória discursiva fazem sentido no intradiscurso porque pertencem à ordem do já-dito, ao domínio do saber. É, enfim, “a condição do legível em relação ao próprio legível” para a leitura de um texto como acontecimento. Já para Orlandi (2002: 31), essa noção constitui “o saber discursivo que torna possível todo dizer e retorna sob