Revista Rua


Rememoração/Comemoração no Discurso Urbano
(Rememoration/commemoration in the urban discourse)

Maria Cleci Venturini

de acontecimentos referentes às memórias de pequenas cidades e comunidades pela proliferação de museus e monumentos, como guardadores de memórias, como objetos culturais, que funcionaram como relíquias, próprias da Era da Patrimonialização. 
Nora (id.) sinaliza para a impossibilidade de o Estado ou de as instituições determinarem o que é comemorado. Nesse sentido, classifica as comemorações em duas tipologias: a voluntária e a involuntária. No seu ponto de vista, a voluntária seria organizada e determinada pelas instituições, as quais priorizam o “espetáculo” e se constituem por repetições a partir de slogans, pela fabricação de acontecimentos e narrativas ritualizadas. A comemoração em torno da Revolução Francesa seria voluntária, deliberada. Mesmo assim, a França comemorava, simultaneamente, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade (próprios da Revolução Francesa) e também a dinastia dos reis capetianos. Com isso Nora (id.) sinaliza para as divisões, tensões e contradições que habitam a comemoração, fazendo com que coexistam no mesmo espaço a celebração e a crítica.
O acontecimento “Maio de 68” é apontado por Nora (ibid.) como uma comemoração involuntária, não regida pelo Estado. Neste tipo de comemoração,as instituições não participam dos ritos de comemoração, uma vez que estes fazem retornar discursos que as instituições buscam apagar e silenciar. Nesses eventos comemorativos, segundo o mesmo autor, há a apropriação da memória pela História pela proliferação de movimentos identitários sociais e políticos que contribuem para a afirmação da cidadania, instaurando a crítica em relação aos valores que se inscrevem na história oficial, que interessam ao Estado cristalizar e aos interesses comemorativos involuntários, apagar.
Davallon (1993/1999) enfoca a comemoração, assim como Nora, em torno da Revolução Francesa, mas a vê como a oportunidade de “olhar” criticamente o passado por meio de uma leitura simbólica do fato social comemorado. Para ele, a comemoração decorre de um jogo político ligado a fatos sócio-históricos, aos quais os sujeitos da formação social filiam-se ou não. Isso significa que ela não atinge a todos os sujeitos sociais da mesma forma, alguns se engajam e participam desses ritos, mas parte dos sujeitos se desinteressa. Assim, a comemoração desencadeia, ao mesmo tempo, a aceitação e a crítica e, por isso, pode ser abordada pela dimensão estratégica e pela dimensão simbólica, com conseqüências conjunturais e estruturais.
A dimensão estratégica diz respeito ao planejamento e desenvolvimento dos ritos comemorativos e, por isso mesmo, instaura conflitos e contradições próprias da