Revista Rua


Rememoração/Comemoração no Discurso Urbano
(Rememoration/commemoration in the urban discourse)

Maria Cleci Venturini

REMEMORAÇÃO E COMEMORAÇÃO
 
As reflexões em torno da rememoração e da comemoração ancoram-se na noção de comemoração a partir dos historiadores, especialmente de Nora, em seus vários textos. Essas noções, na História e na Antropologia, assinalam a passagem do histórico ao rememorativo e do rememorativo ao comemorativo, como o espaço em que a memória se constitui em História. Nesses lugares as duas noções recobrem-se. A primeira – rememoração – apesar de não ser abordada, sustenta a comemoração, como o que é digno de ser lembrado. Segundo Catroga (2001: 22), na História e na Antropologia, a rememoração aproxima-se da recordação do passado, que se subordina “ao princípio de realidade, o que exige que as evocações, apesar de conjugarem um tempo passado (anterioridade), mobilizem argumentos de veridição, tendo em vista garantir a fidelidade do narrado [...]”. Diante disso podemos dizer que a memória constitutiva da rememoração é aquela que significa para os sujeitos sociais, do contrário, ela não faria parte da comemoração.
 A comemoração, entretanto, é freqüentemente referenciada nesses domínios, principalmente na França, em relação à Revolução Francesa, como acontecimento sócio-político reconhecido como digno de celebração e que, de acordo com Nora (1992), foi um dos eventos que desencadeou a “Era das Comemorações”, como o lugar da celebração. Nora (id.) desenvolveu a noção lugar de memória para funcionar, em relação aos discursos de comemoração, como o lugar da crítica, buscando quebrar o tom celebrativo. Isso no momento Histórico em que o Estado tomava para si a responsabilidade comemorativa e as sociedades referenciavam a memória e não a História. A possibilidade de a memória – da ordem do vivido – extinguir-se juntamente com as comunidades que a mantinham fez com que lugar de memória se fizesse necessário, como arquivo, para que a memória pudesse transformar-se em História, como continuidade e como estabilidade, o que a institucionalizaria. No entanto, segundo Nora (ibid.), o lugar de memória, que deveria funcionar como uma contra-memória, tornou-se ele próprio um instrumento de comemoração.
Nora (1984, 1992, 1993) salienta que a comemoração, inicialmente desencadeada pelo Estado, deslizou para o privado, instaurando a celebração de nomes e