Revista Rua


Rememoração/Comemoração no Discurso Urbano
(Rememoration/commemoration in the urban discourse)

Maria Cleci Venturini

o imaginário urbano pela rememoração – memória do sujeito idealizado – e pelo discurso fundante – o que retorna e se repete – e produz, segundo Courtine (1999), um preenchimento e um efeito de consistência no interior do formulável, saturando e homogeneizando o discurso, pela solidificação da imagem do sujeito/objeto da comemoração pelo discurso como prática discursiva.
As análises das materialidades que compuseram o corpus discursivo da nossa tese de doutorado em relação ao lugar de memória – a rememoração/comemoração e os lugares que a sustentam/sinalizam para os procedimentos que constituem os efeitos descritos acima, entre os quais destacamos as palavras de ordem, que encaminham para formas estabilizadas de “preservar memória” e determinam o que pode e deve ser dito ou feito para transformar esse nome em História. Entre os enunciados que funcionam nessa direção, destacamos “Preservar para lembrar”, em que as expressões deônticas do dizer retornam pelo efeito do discurso transverso.
 A definição é um dos procedimentos de “fazer-crer” porque “faz-ver” o sujeito que povoa o imaginário urbano. Observamos o funcionamento desse procedimento pela estrutura oracional predicativa (X é...) utilizada para definir o escritor, nesse discurso, como “filho mais ilustre”, “cidadão de todos os continentes”, “nosso maior bem cultural”, “herança que queremos dividir com todos”, “nosso maior contador de histórias”. Todas essas definições encaminham para idealidade. Segundo De Certeau (1992: 290), a citação “é a arma absoluta de fazer crer, como ela ‘joga’ com aquilo que o outro supostamente crê, é portanto o meio pelo qual se institui o real”. Nos textos analisados a citação ocorre pela retirada de fragmentos da obra do escritor, em que a personagem fala da casa em que ele nasceu e da importância dessa casa na sua vida, para “fazer-crer” e também “fazer-ver” a importância histórica da casa no espaço urbano de Cruz Alta. A citação contribui para a construção de “simulacros” e, com isso, de “realidades imaginárias. Além dos procedimentos descritos, ressaltamos a repetição de uma mesma imagem, no caso do escritor, e também da sua assinatura. Para analisar o efeito discursivo delas no discurso de rememoração/comemoração trabalhamos com o conceito enunciado-imagem, para argumentar que as imagens, assim como os enunciados verbais, comportam memórias e significam diferentemente em cada formulação, haja vista a sua relação a sujeitos e a inscrição deles a domínios de memória.