transforma o silêncio disperso e contraditório em categorias classificatórias da realidade, determinadas por uma formação discursiva dominante naquele dizer. A realidade é, então, compartimentada em binômios, tais como: justo/injusto, igualdade/desigualdade, permitido/proibido, possível/impossível, certo/errado, verdadeiro/falso, bom/mau, legal/ilegal, sério/não-sério e outros. A linguagem, atravessada pela ideologia, direciona e organiza o silêncio. Ao romper o silêncio, ela controla a memória de um dizer disperso, filiado a inúmeras redes de sentido.
(...) se a linguagem é categorização do silêncio, isto é, ela produz a sedentarização dos sentidos, as palavras representam já uma disciplinação da significação “selvagem” do silêncio. Assim, a produção verbal serve para a administração (gestão) do sentido. (Orlandi, ibid, p. 56)
Voltando ao nosso material de análise, podemos compreender que o dizer cordial do diálogo da campanha da Natura traz, porém, as marcas de um discurso que divide a sociedade em trabalhadores e detentores dos meios de produção, entre os que têm a força de trabalho, mas ficam excluídos do acesso ao produto do seu trabalho e os que pagam por esta força de trabalho e desfrutam dos bens outrora produzidos.
Vejamos como funciona no texto o discurso ecológico atravessado, na memória e no não-dito, pelo discurso da sociedade dividida em classes que se opõem, cujas posições-sujeito são definidas e reforçadas pela ideologia de uma sociedade baseada nas relações econômicas. Para isso, vamos retomar os enunciados dos dois grupos acima divididos, a saber:
GRUPO 1
Deixa eu cuidar do seu banho.
Deixa eu cuidar da sua pele.
GRUPO 2
Deixa eu cuidar da sua terra.
Deixa eu cuidar do seu rio.
Deixa eu cuidar da sua floresta.
Se agrupássemos os enunciados do Grupo 1 por uma paráfrase, construiríamos o seguinte enunciado: