afirmar, que as palavras, nos sentidos específicos, propostos pelos exemplos acima, ainda não existiam. Isso ocorre porque a relação linguagem-mundo não é uma colagem perfeita. O sentido das palavras não está definido de uma vez para sempre sobre o real. Pelo contrário, ele se faz determinado pelas condições de produção, ou seja, pela exterioridade, que é constitutiva do texto. Não é o fato de que os sujeitos, a situação e a memória pudessem ser uma camada externa, colocada por sobre o texto. Pela Análise de Discurso, só há sentido, porque o texto é um objeto lingüístico-histórico. “Para que a língua faça sentido, é preciso que a história intervenha.” (Orlandi, 1998, p. 67). Ou seja, a língua não fala por si mesma, mas precisa da história para significar. A colagem aparente entre linguagem e mundo, palavra e realidade, é atravessada pela história e pela ideologia, que, na Análise de Discurso, não é entendida como ocultação de certa interpretação de fenômenos humanos, ou conjunto de valores, mas é prática que torna possível a constituição de sujeitos e sentidos. Pela ideologia, parece haver uma colagem perfeita entre mundo e linguagem, porque ela produz evidências tanto subjetivas (ilusão da origem do dizer) quanto evidências do sentido (ilusão da literalidade das palavras). “Na transparência da linguagem, é a ideologia que fornece as evidências que apagam o caráter material do sentido e do sujeito”. (Orlandi, 1999, p. 51) Portanto, é papel do analista de discurso tornar visível essa opacidade da língua por meio da metáfora (uma palavra no lugar da outra), que, nos gestos de interpretação, vai demonstrando a transferência de uma palavra que poderia ser outra, que fala por outra, que carrega sentidos diferentes.
Sujeito e sentidos são constituídos na relação língua, história e ideologia e esse processo é o objeto de estudo da Análise de Discurso.
(...) a ideologia faz parte, ou melhor, é a condição para a constituição do sujeito e dos sentidos. O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para que se produza o dizer. Partindo da afirmação de que a ideologia e o inconsciente são estruturas-funcionamentos, M. Pêcheux diz que sua característica comum é a de dissimular sua existência no interior de seu próprio funcionamento, produzindo um tecido de evidências “subjetivas”, entendendo-se subjetivas não como ”que afetam o sujeito”, mas, mais fortemente, como “nas quais se constitui o sujeito”. Daí a necessidade de uma teoria materialista do discurso – uma teoria não subjetivista da subjetividade – em que se possa trabalhar esse efeito de evidência dos sujeitos e também a dos sentidos. (Orlandi, 1999, p. 46)
Informações, por exemplo, sobre o autor de um texto, país de origem ou a época em que foi produzido, terão seu lugar em uma análise discursiva. Mas o texto é