Revista Rua


A contradição no consenso social do discurso ecológico da campanha publicitária da linha Ekos da Natura
The contradiction of the social consensus about the ecological discourse of "Natura Ekos Line" advertising campaign

Maria Eunice de Godoy Machado Teixeira

importante enquanto considerado objeto lingüístico-histórico, trazendo marcas desta materialidade histórica, vestígios da determinação histórica da significação. É nesse aspecto que o texto é elemento de análise, mas não é o único ponto de partida nem tampouco de chegada em um trabalho analítico discursivo, pois o foco central são as condições de produção do sentido.
No caso da campanha publicitária da linha Natura Ekos, quer-se entender como se construiu o discurso ecológico como discurso de consenso entre classes sociais diferentes e opostas. Pretende-se, neste gesto de interpretação, demonstrar como o discurso ecológico, considerado aqui como um novo sentido, traz elementos do discurso classista, evidenciando a memória de um dizer: um sentido sedimentado (o da luta de classes) desliza em direção à constituição de um novo sentido (o ecológico) e, pela análise discursiva, é possível ver, inversamente, que, no caso desta propaganda, o sentido de unidade e interdependência entre as classes (o novo) trará em seu bojo, ainda, os vestígios de velhos sentidos: de que a sociedade é dividida, assim como os sujeitos o são.
Para efetuar uma análise de discurso, percorrem-se três fases. A primeira é o contato com o material de análise, na sua superfície lingüística. Aqui, então, se faz o processo de de-superficialização (cf. Orlandi, 1999), quando o texto recebe um primeiro tratamento de análise, identificando as frases, a sintaxe, em que condições foi falado o que está dito, enfim, a enunciação. Na segunda fase, o analista identifica o objeto discursivo por meio das formações discursivas e, por fim, chega-se ao processo discursivo, partindo das formações discursivas identificadas em direção à formação ideológica que domina tal discurso.
As formações discursivas devem ser compreendidas como aquilo que, em uma determinada formação ideológica, pode e deve ser dito. Se o sentido de uma palavra não está dado para sempre, como aqui já foi falado, pois o dizer é sempre ideológico, então, o sentido da palavra vai mudando, transferindo-se, conforme uma formação ideológica, o que define, como conseqüência, as formações discursivas. Neste raciocínio, a palavra tomaria certo sentido de acordo com a formação ideológica em que está inscrita e teria outro sentido ou ausência de sentido em uma formação ideológica diferente. Por isso, a formação discursiva é entendida como regiões de sentido, pois seria possível - levando-se em consideração que nenhuma discursividade é homogênea - pensar em uma localização do sentido, ou seja, um limite traçado no sentido, no interior do qual haveria uma coerência ideológica do dizer.