Revista Rua


A contradição no consenso social do discurso ecológico da campanha publicitária da linha Ekos da Natura
The contradiction of the social consensus about the ecological discourse of "Natura Ekos Line" advertising campaign

Maria Eunice de Godoy Machado Teixeira

Aqui, o cuidado não recai sobre a pessoa do trabalhador, mas sobre o seu meio de subsistência, sua fonte de renda, seu trabalho, enfim, sobre sua forma de produção no sistema econômico. Então, poderíamos construir:
 
Deixa eu cuidar da sua terra.
Deixa eu cuidar do seu rio.                   Deixa eu cuidar do seu trabalho.
Deixa eu cuidar da sua floresta.
 
Enquanto as usuárias da linha Ekos são identificadas pelo seu corpo, por aquilo que se reconhecem os seres humanos e os particulariza no mundo, os lavradores têm como extensão de seu sentido os meios pelos quais produzem riqueza como participantes da população economicamente ativa do país. As clientes da Natura são identificadas por elas mesmas e os lavradores pelos meios com os quais produzem bens. Aquelas merecem cuidado, conforto e bem-estar pessoal. Estes merecem condições para trabalhar, merecem emprego. Porém, ‘terra’, ‘rio’ e ‘floresta’ não aparecem aqui com o sentido de meios de produção. Pelo contrário, eles aparecem como extensão do trabalhador, em uma tentativa de reter o funcionamento do ideológico que constitui o sujeito-camponês como classe trabalhadora. Por meio da metáfora e da polissemia, ‘terra’, ‘rio’ e ‘floresta’ surgem em um sentido novo, como partes do trabalhador. Eles estão unidos em uma simbiose perfeita. Não é possível saber aonde termina o homem e começa a natureza. A ligação é harmoniosa, é sublime. ‘Terra’, ‘rio’ e ‘floresta’ não são mais o local de onde o trabalhador retira seu sustento, o qual, ao final, vai se transformar em produto comercializado e adquirido pela consumidora Natura. Eles estão no homem e o homem está neles. Se se cuida da terra, do rio e da floresta, está-se cuidando do homem. Entre o trabalhador do campo e a natureza não deve haver hiatos, diferenças, separação, porque eles são uma única entidade. Nesse sentido, não convém que se fale em trabalhador do campo ou que se trate da natureza como fonte de renda. Opacifica-se o sentido de trabalhador e surge o sentido de homem e o sentido da natureza como parte ontológica do humano, como um semelhante, uma irmã. Apaga-se o político da relação entre o homem e a natureza em uma sociedade economicamente organizada.
Segundo o pensamento marxista, a única mercadoria vendável de que dispõe o trabalhador é a sua força de trabalho. Já que ele não é dono dos meios de produção, ele