Revista Rua


A contradição no consenso social do discurso ecológico da campanha publicitária da linha Ekos da Natura
The contradiction of the social consensus about the ecological discourse of "Natura Ekos Line" advertising campaign

Maria Eunice de Godoy Machado Teixeira

para colocar em prática o uso sustentável de ativos da biodiversidade brasileira. Os ativos (ingredientes usados nos produtos), mostrados na propaganda, foram o maracujá, a castanha e a pitanga.
A Análise de Discurso não busca compreender o conteúdo, a mensagem, de um texto, acreditando ser possível encontrar um sentido verdadeiro, mas interpretar como se dá a produção do sentido, ou seja, como ele foi construído de forma a ser significado de uma dada maneira. O texto é a unidade de análise neste campo de conhecimento, mas o objeto de estudo é o discurso, compreendido como “efeito de sentidos” entre locutores (GADET e HAK, 1990, p. 82). O efeito de sentidos (discurso) é o resultado das forças da determinação histórica no processo de significação, levando-se em conta os sujeitos, as condições de produção, o interdiscurso. Isso resulta do entendimento de que o real é sempre mediado pela língua, não considerada como entidade abstrata, sistema fechado, mas sim, na sua forma-material, ou seja, linguístico-histórica, e o discurso é onde se dá o contato da língua com a ideologia. Por isso mesmo o que se faz na Análise de Discurso não é uma análise lingüística, apesar de se partir da língua, considerada a base material dos processos discursivos, mas ela vai além da análise fono-morfo-sintática e até mesmo da análise semântica formal. Desta forma, o texto deverá trazer marcas da relação língua e história e “deve ser então considerado como o lugar material em que essa relação produz efeitos” (Orlandi, 2001, p. 87).
 
O texto organiza (individualiza) a significação em um espaço material concreto. A organização do texto enquanto unidade é reflexo indireto da ordem do discurso, não sendo possível se passar diretamente de um para outro. É só a teoria que permite, a partir de indícios sobre a ordem do discurso, detectar a configuração da organização das unidades do texto que são significativas em relação a essa ordem. Trata-se da relação do real do discurso com seu imaginário e que a textualidade representa. (Ibid, p. 66)
 
Então, se discurso é a inscrição da língua na história, produzindo sentidos, analisar um texto é trazer à tona os gestos de interpretação que textualizam uma determinada ordem discursiva, ou seja, esta análise interpretativa irá expor as marcas da discursividade, dito de outra forma, a maneira como os sentidos trabalham na textualização. Mas é importante dizer que um texto nunca é a completa representação do discurso, já que este não é um conjunto fechado de enunciados. A unidade do texto, com começo, meio e fim, é imaginária, pois o texto, na verdade, dialoga com outros textos existentes e possíveis e com a memória do dizer, a memória discursiva, “aquilo